A priori, hoje, aqui nesse espaço, seria abordado outro tema. De repente, e para depois eu não sentir culpa ou remorso, resolvi escrever sobre o assunto do momento: o retorno das aulas presenciais no ensino público no Amazonas. E para cumprir tal empreendimento intelectual, entrevistei quatro professores, dois a favor e dois contra o retorno das aulas presenciais.

Esse debate teve início nessa terça-feira (28), quando o governador do Estado, Wilson Lima, anunciou, sem ouvir os representantes dos profissionais da educação, o retorno das aulas presenciais para o dia 10 de agosto. Na ocasião, o secretário de Estado de Educação e Desporto, Luís Fabian, explicou que o retorno será de maneira gradativa e híbrida.

De toda sorte, essa foi uma notícia que não agradou muito os profissionais da educação. Pesquisas apontam que a maioria são contra o retorno das aulas presenciais nesse momento. A maioria dos pais também são contra o retorno das aulas presenciais. Alguns argumentam que “é preferível perder o ano escolar que perder à vida”, uma vez que ainda não se tem vacina contra o vírus.

No entanto, nem todos são dessa mesma opinião. O professor Jandir Pereira*, 29 anos, licenciado em Educação Física, que trabalha na rede municipal e estadual de ensino, é a favor do retorno as aulas porque “não existe mais isolamento social. Desde o início da pandemia eu fiz o máximo possível para ficar em casa, saía o mínimo possível, somente para fazer as compras no supermercado. Porém, depois de algum tempo, já pelo mês de junho resolvi dar uma volta, só passear de moto, pelo bairro mesmo, aí percebi que não tinha mais isolamento social”.

Também a professora Aparecida Silva* é a favor do retorno às aulas presenciais. “As autoridades sanitárias estão convictas desse retorno híbrido e escalonado, não vejo onde está a dificuldade para esse recomeço, visto que, nossas crianças e o povo em geral estão todos em pracinhas, shoppings, balneários, enfim, todos estão à mercê desse vírus que nos cerca”.

Já para o professor Jonas Araújo, Semed/Manaus, licenciado em História pela UFAM, especialista em Ética e Política pelo Sares/UNICAP, afirma que é contra o retorno das aulas presenciais porque “as condições sanitárias da cidade são insuficientes para garantir um retorno seguro as aulas. De acordo com o estudo da Fiocruz o retorno das aulas pode provocar uma nova onda de contaminação nesse momento”.

Também a professora Viviane Mendes Couto, Licenciatura em Geografia pela UFAM, Gestão da Qualidade pela UniNorte, Pós-graduação em Gestão e Supervisão Escolar pelo IDAAM, é contra o retorno das aulas presenciais nesse momento porque “infelizmente as escolas públicas não tem a estrutura física adequada para receber a quantidade de alunos, não tem insumos o suficiente para higienização da escola, não tem pessoas para fazer esse serviço, tem escola que falta água e sabão que são itens básicos, banheiros totalmente insalubridades para uso”.

Observa-se que, defender o retorno às aulas presenciais nesse momento, usando como justificativa o argumento de que o comércio já abriu as portas, os shoppings estão lotados, os balneários entupidos de gente, etc., é defender à lógica do capitalismo. Como sistema econômico que visa o lucro, o capitalismo não pode ser tomado como referência à condição humana, a saúde, a educação. Nunca podemos perder de vista à dignidade da pessoa humana. Como diz o filósofo alemão Immanuel Kant: “O ser humano é fim, nunca meio”.

Eu também sou contra o retorno das aulas presenciais nesse momento, porque sou a favor da vida, simples assim! Outro motivo é que ainda vivemos tempos difíceis, imersos numa pandemia que nos trouxe múltiplos desafios e que os governos ainda não estão preparados para a sua principal missão pós-pandemia: servir os seus cidadãos.

Por fim, um recado às autoridades, aos professores, aos pais que querem o retorno das aulas presenciais nesse momento, onde já morreram mais de 92 mil pessoas por Covid-19 no país: “Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Repito. “Prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Pensem nisso!

*Nomes fictícios, pessoas reais.

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). E-mail: [email protected] | Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg

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