Como na próxima quinta-feira, 18 de novembro, comemora-se o Dia Mundial da Filosofia, vou compartilhar aqui com os meus estimados leitores como eu conheci o universo da Filosofia. Lembro-me que quando eu estudava no primeiro ano do ensino médio, o professor de Filosofia começou a falar da vida de Sócrates e de como ele ensinava filosofia aos jovens, fazendo-os indagar sobre as suas próprias vidas. 

Eu, que sempre fui um rapaz muito tímido, comecei a prestar atenção na forma como o professor falava dos filósofos. Foi amor à primeira vista. A partir daquele dia eu coloquei na minha cabeça que seria filósofo. Embora algumas pessoas exagerem, o ditado popular “querer é poder” tem muito de verdade. E passei a repetir, todos os dias, para mim mesmo, essa frase, como que um mantra.  

E para que esse sonho se tornasse realidade, eu passei a acompanhar a aula do professor de Filosofia com mais atenção ainda, mas do que as aulas dos outros professores. Um dia, tomei coragem e dirigindo-me até a mesa do professor, falei assim para ele:  

— “Mestre, eu amo Filosofia. Como faço para ser um filósofo?”. O professor riu um riso enigmático e disse em voz alta, para que todos os alunos presentes ouvissem: — “Vejam aqui quem quer me substituir”. 

Eu interrompi a fala do professor e disse-lhe: — “Não. Não é isso professor. Eu acho que o senhor me interpretou errado”.  Mas ele insistiu: — É isso mesmo. Você vai me substituir, quando eu me aposentar”, e todos riram as gargalhas. 

Naturalmente eu quase morri de vergonha, além, é claro, da uníssona vaia que levei da turma. Mas o professor tentou colocar ordem naquela bagunça e, também, aos gritos, começou a falar mais alto do que todos: — O que eu estou dizendo é que o Luís nunca faltou uma aula minha. Ele sempre fez as atividades e entregou todos os trabalhos em dia. Ao contrário de muitos aqui… 

Na medida em que o professor ia falando, todos iam se calando. — Digam-me – continuou ele. — Não é verdade que quem quer fazer Medicina deve se dedicar as disciplinas da área da saúde; quem quer ser Advogado deve se dedicar aos estudos das leis; quem quer ser Padre deve estudar Teologia, assim é com quem quer ser um Filósofo, como o Luís, — ele disse isso colocando o seu braço esquerdo sobre o meu ombro —, deve se dedicar aos estudos da Filosofia. 

Quando o professor acabou de falar: “quem quer ser um filósofo, como o Luís”, todos riram, novamente as gargalhadas, e alguns até mais agressivamente ainda começaram a falar: — “Deixa de ser besta rapaz, vai fazer um curso que lhe der dinheiro”; — “Não desperdiça o teu tempo fazendo filosofia”; — “Filosofia não contribui em nada com a sociedade”; — “Filosofia é coisa de louco, de ateu”. 

O professor respondeu cada uma daquelas colocações e falava olhando nos olhos dos seus autores. — O importante é fazer àquilo que se gosta. Do que adianta fazer um curso superior, ganhar um montão de dinheiro e não ser feliz? Eu conheço um monte de gente que se formou pensando só em ganhar dinheiro e hoje estão aí, pobres e infelizes! 

Depois que o professor desmontou cada um dos discursos dos que estavam tentando me persuadir da ideia de ser filósofo, ele voltou-se para mim, que nessa altura me encontrava recolhido no canto da sala, e disse-me: — Se você quer ser mesmo um filósofo, continue lendo, lendo, mas lendo muito. Só assim você será um filosofo. — E o que é um filósofo? — perguntou o único aluno que não me vaiou quando eu disse para o professor que queria ser filósofo. 

— Bom, — disse-lhe o professor. — Para responder essa sua pergunta, vamos chamar aquele que quer ser um filósofo. Venha para cá, Luís! Todo retraído eu fui e comecei a ler Nietzsche para a turma: 

— “Um filósofo é um homem que vive, vê, ouve, suspeita, espera e sonha constantemente com coisas extraordinárias, que fica surpreso com suas próprias ideias como se viessem de fora, do alto e debaixo, como por uma espécie de acontecimentos e de raios de trovão que só ele pode sofrer”. 

Todos acharam maravilhosa a minha leitura, e o professor voltou a falar: — Agora, para ver se o Luís será mesmo um filósofo, responda-nos quando é que se comemora o Dia da Filosofia? — Sinceramente professor, eu não sei – respondi-lhe. Então ele começou a falar e cada uma de suas palavras mereciam ser gravadas em placa de ouro, pois eram palavras de sabedoria, palavras de vida. 

— Comemora-se o Dia Mundial da Filosofia sempre na terceira quinta-feira do mês de novembro, pois foi nessa data que morreu, provavelmente, Sócrates, o pai da Filosofia. Essa data foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por acreditar no valor da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento humano em cada cultura e cada indivíduo, sustentando que o pensamento crítico ajuda a dar sentido à vida e às ações realizadas no contexto internacional. 

E eu, querendo aprender cada vez mais com aquele grande mestre, perguntei-lhe: — Qual a importância da Filosofia? Ele, com a sabedoria que lhe era característica e a paciência de sempre, respondeu-me: — Você vai ter que descobrir por conta própria. Observe ao seu redor. Abrace o novo. Reflita. Em suma, penso que a importância da Filosofia, Luís, é tornar o mundo um lugar mais tolerante e feliz para se viver. 

Por fim, peço ao estimado leitor e a estimada leitora, que volte ao segundo parágrafo desse texto e veja se você concorda ou não com o ditado popular que está ali posto. Particularmente, essa é a minha filosofia de vida, sem a puxação de saco e nem o egoísmo do mundo capitalista, porque, em última instância, eu ainda acredito no ser humano e que a “Filosofia é a arte do bem viver”, como disse Marilena Chauí. 

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor do livro: “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas”. Para comprar o livro do professor Luís Lemos basta acessar o link https://www.amazon.com.br/Jesus-Ajuricaba-Terra-Das-Amazonas/dp/168759421X ou na Livraria Nacional, no Centro de Manaus. Para apoiar o trabalho do professor Luís Lemos se inscreva no seu canal no YouTuber https://www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg.

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