O Ambulatório de Diversidade Sexual e Gênero da Secretaria e Estado de Saúde (Susam) ressalta a importância do envolvimento da família no processo transsexualizador. A unidade presta acompanhamento especializado e humanizado para cerca de 171 pessoas da comunidade LGBT na Policlínica Codajás, na zona centro-sul de Manaus. Além do suporte psicológico aos pacientes, familiares também recebem orientação profissional no ambulatório. 

O serviço oferece acompanhamento médico e multiprofissional personalizado com uma equipe de 15 profissionais, entre médicos, psicólogos, psiquiatra, endocrinologista, fonoaudiólogo, serviço social e enfermagem. 

O ambulatório recebe todos os dias, em média, 10 pacientes para o acompanhamento psicológico. Para as duas profissionais, Daniela Silva e Michelle Rodrigues, a participação da família é fundamental no processo de reconhecimento de gênero e fortalecimento da autoestima do paciente.

Segundo Michele, foi pensando nessa integração que a equipe passou a acolher no consultório de psicologia, além dos pacientes, também os familiares e pessoas com vínculos afetivos com esses usuários do serviço. 

“A literatura cita a importância da referência familiar, do vínculo afetivo. E o alcance que a gente vê com o acompanhamento psicológico familiar é muito grande. As pessoas que tem esse acompanhamento familiar, comparando com as pessoas trans que tiveram pouca aceitação e uma grande discriminação, essas pessoas apresentam um sofrimento muito maior. E a partir do momento que a família vai demonstrando essa integração há também uma recuperação da autoestima e o reconhecimento de gênero muito significativa”, explicou Michelle. 

Mônica Cavalcante, 56, é mãe de Yuri Cavalcante, 27, e relatou sua experiência com o filho trans. “A gente sabe que as dificuldades vão ser muito maiores, mas quando a família aceita esse filho o que acontece? Ele se sente mais fortalecido para enfrentar o mundo, ele precisa ser aceito pelos familiares que são a base dele, a raiz dele. Ele sendo aceito pela raiz, o resto ele consegue enfrentar. Eu acho de extrema de necessidade o acompanhamento da família para trabalhar essa família na aceitação dessa condição desse filho, porque eles sentem que estão decepcionando a família e eles não são uma decepção. Eles são verdade, eles são amor. É isso é você aceitar o seu filho”, relembrou a mãe sobre a experiência.  

Fluxo de atendimento – De acordo com a médica ginecologista que coordena o ambulatório, Dária Neves, a consulta inicial começa com acolhimento pela equipe de enfermagem e de assistência social. 

O paciente é atendido por uma psicóloga e, em seguida, atua a equipe médica, que faz uma análise clínica e pede exames para iniciar a hormonioterapia. Após a etapa da triagem, o acompanhamento médico é trimestral, segundo explicou a coordenadora. 

Conforme a médica, a afirmação de gênero é o procedimento terapêutico multidisciplinar que, por meio de hormonioterapia, permite a pessoa adequar seu corpo à sua identidade de gênero, chamado processo transexualizador que pode incluir ou não cirurgia.

Para a especialista, o apoio da família é a extensão do tratamento.  “Aqui no ambulatório, nós observamos o seguinte: a grande maioria tem um histórico de conflito familiar, por esse não entendimento. Então nós trabalhamos muito a família. É importante que a família venha junto, aquele processo inicial da harmonização. Nós temos alguns casos que a mãe, o pai, acompanharam, eles se sentem mais acolhidos. Nós também temos muitos casos de pessoas que chegam aos 18 anos e tomam a decisão em relação à hormonização, ela não tem o apoio em casa, que é expulsa de casa, abandonada pela família”, explicou a médica.

A médica explica que a incongruência de gênero acontece quando o indivíduo não se reconhece com o sexo identificado ao nascer. Homens transexuais/transgênero são aqueles nascidos no sexo feminino, mas que se identificam como sexo masculino. Já a mulher transexual/transgênero é aquela nascida no sexo masculino, mas se identifica como do sexo feminino. Travesti é a pessoa que se identifica e se apresenta com o gênero oposto, porém aceita seu órgão sexual.

Educação – Atuando como coordenador do projeto na área jurídica, o professor da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Denison Aguiar, afirma que a busca pela dignidade é o principal objetivo do ambulatório. O professor acredita que a educação também tem papel transformador para vencer preconceitos e discriminação dentro do ambiente familiar. 

“Uma mãe que vê o filho num futuro bem próximo o filho como pai, marido, provedor de uma casa e tem que mudar esse conceito, para encarar uma mulher que pode ser ou não mãe – e essa mudança também tem que ser acompanhada pela família. No ambulatório todo mundo é envolvido em processo também educacional de base da formação continuada”, completou. 

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