Folha de S.Paulo – Sob pressão de manifestações por toda a Alemanha, os partidos da frágil coalizão governamental de Angela Merkel finalmente concordaram, nesta sexta-feira (20), com os pontos-chave de uma estratégia climática após intensas negociações.

“Há um acordo com muitas medidas e um mecanismo de verificação anual para garantir que as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa sejam alcançadas”, informaram à AFP fontes próximas ao governo. 

Estão previstos no acordo investimentos de pelo menos 100 bilhões de euros até 2030 em toda a Alemanha.

Esse montante será investido “para a proteção do clima e na transição energética”, segundo o texto final do acordo. O governo pretende gastar 54 bilhões de euros nos quatro primeiros anos do plano, até 2023, segundo informou à imprensa o ministro das Finanças Olaf Scholz.

O desafio consiste em tomar medidas para incentivar os alemães a reduzir as emissões de poluentes e permitir que o país cumpra suas metas de redução de emissões poluentes.

O anúncio ocorre enquanto milhares de manifestantes, cerca de 80 mil, segundo os organizadores,  reúnem-se em Berlim no icônico Portão de Brandenburgo para uma ação global em defesa do clima.

Manifestações estão programadas em 575 cidades alemãs, segundo a porta-voz alemã do movimento FridaysforFuture, Luisa Neubauer. Há protestos marcados no mundo inteiro, incluindo o Brasil.

A questão do financiamento é complicada pelo fato de o governo se recusar a contrair novas dívidas, de acordo com sua política de ortodoxia orçamentária “Schwarze Null”.

As negociações tropeçaram, em particular, em um modelo de tarifação das emissões de CO2, onde a gasolina, o diesel, gás de aquecimento ou óleo combustível poderiam ter aumento nos preços.

A questão central é definir um preço alto o suficiente para fazer com que os consumidores optem por soluções menos poluentes mas que ao mesmo tempo não provoque protestos, como o dos coletes amarelos na França.

Em termos concretos, a estratégia do governo também inclui uma série de medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos setores de energia, construção, agricultura, indústria e transporte. 

Isso varia de um favorecimento aos transportes públicos e trens, ao aumento do preço das viagens aéreas na Alemanha, a vários subsídios para o desenvolvimento de carros elétricos ou para o aquecimento individual limpo e eficiente.

Paralelamente, pretende-se acelerar o desenvolvimento de energias limpas (solar, eólica ou biomassa), subindo a 65% em 2030 contra 40% de hoje.  

A pressão sobre o governo de Merkel é grande: ele deve responder às expectativas dos manifestantes ao mesmo tempo que um acordo parece indispensável para a própria sobrevivência da coalizão.

O ministro social-democrata das Finanças, Olaf Scholz, relacionou diretamente a continuidade da coalizão à elaboração de “um grande projeto climático”.

No início do ano, a Alemanha decidiu abandonar o carvão até 2038, mas ainda não programou o fechamentos das minas e centrais. Outro ponto delicado que deve ser resolvido até 2022 é o abandono da energia nuclear, decidido em 2011 após o desastre de Fukushima. 

E, enquanto a poderosa indústria automobilística privilegiou por muito tempo veículos movidos a gasolina ou diesel, agora deve se dirigir para o elétrico.

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