Apostar na retomada verde não é apenas “a coisa certa a fazer”, mas também uma oportunidade para impulsionar o crescimento econômico e gerar empregos na América Latina, num momento de fragilidade da economia por causa da recessão causada pela covid-19. A avaliação é dos economistas Rogério Studart, pesquisador do World Resources Institute (WRI), e José Antonio Ocampo, professor da Universidade Columbia, palestrantes de um seminário online promovido nesta quarta-feira, 30, pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o Global Center da Universidade Columbia no Brasil. 

“Recuperação verde não é só a coisa certa a fazer, mas é uma grande oportunidade”, afirmou Studart, citando estudo recente do WRI Brasil, que estimou que 2 milhões de empregos poderiam ser criados no País em atividades econômicas ambientalmente sustentáveis.

Ex-professor da UFRJ e integrante das representações do Brasil tanto no Banco Mundial quanto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Studart vê oportunidades também na atração de investimentos. Isso porque há uma “mudança estrutural” no setor financeiro, com o risco ambiental entrando de forma definitiva nas avaliações para a gestão de portfólios tanto de financiadores quanto de investidores diretos.

Para Studart, o Brasil e os demais países da América Latina podem “mobilizar recursos” como nenhuma outra região do mundo poderia, para investimentos em infraestrutura sustentáveis e em negócios da economia de baixo carbono, se houver um “sinal muito claro” de alinhamento, entre líderes tanto do setor público quanto privado, em torno da sustentabilidade.

Ocampo, que foi ministro da Fazenda da Colômbia e secretário-executivo da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas (Cepal), chamou a atenção para a necessidade de se mobilizar esses recursos em meio à recessão global.

Para o ex-ministro, a América Latina será uma das regiões mais afetadas pela crise global causada pela pandemia não só por causa do propagação da covid-19, mas porque as países foram atingidos já num momento de fragilidade em suas economias, em meio ao que o economista chamou de “meia década perdida”.

“Para além da pandemia, essa crise, muito profunda, se segue a cinco anos de desempenho muito ruim, de 2014 a 2019”, afirmou Ocampo, durante o seminário promovido pelo Cebri. “Por causa da crise, vai se tornar uma década completamente perdida”, completou o economista.

Conforme Ocampo, no período de crescimento entre o início dos anos 2000 e meados da década de 2010, a América Latina experimentou a maior queda da pobreza em sua história, num movimento associado ao crescimento da renda. Com a estagnação do crescimento a partir de meados da década, a melhoria nos indicadores sociais já havia parado. Agora, com a pandemia, 45 milhões de pessoas poderão passar para baixo da linha da pobreza nos países latino-americanos, conforme estimativas citadas por Ocampo.

“Será uma reversão de 15 anos em termos de pobreza na América Latina”, disse o colombiano, que só vê saída para a recuperação da economia por meio de políticas ativas de emprego, como programas de treinamento de trabalhadores e políticas industriais e de crédito público que associem subsídios à geração de postos de trabalho. (Estadão)

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