Será que estamos vivendo uma nova era? A era da indiferença? Ou será que vivemos uma ditadura da fé? Fé em ditadores aos quais os homens entregam sua liberdade para escaparem ao caos criado por seus próprios absurdos, escrúpulos, medos?

Será que sabemos realmente o que queremos como pessoa, como sociedade, como país? Muitas são as dúvidas e poucas são as respostas! Que caminho seguir? Com quem seguir? Por onde seguir? Por tudo o que vem acontecendo atualmente no Brasil, só nos resta dizer como o poeta: “Pai, afasta de mim esse cálice pai”.

Quais são as dores do nosso país, do nosso povo? Por que alguns acham que é a democracia? A política? A educação? A saúde? Particularmente penso que as dores do nosso país seja mesmo a falta de emprego, a fome, a miséria, a corrupção, o Covid-19.

À indiferença também tem fincado seus tentáculos no meio do povo brasileiro ultimamente. É impressionante observar como perdemos a capacidade de empatia, de nos colocarmos no lugar do outro. Infelizmente, com mais de 100 mil mortos pela Covid-19 no país, ainda tem gente que dúvida da existência desse vírus.

É como diz o escritor brasileiro José de Alencar: “Somente os covardes são indiferentes a dor do outro, e os ignorantes toleram o reino da mediocridade”. Quem possui um mínimo de consciência crítica sabe que o ser humano só é verdadeiramente humano quando se identifica com o sofrimento do outro. Afinal, somos ou não somos da mesma espécie?

Infelizmente no Brasil atual parece que existe duas categorias de pessoas: os crentes e o céticos. Os crentes acreditam na existência do vírus e são solidários com a dor e o sofrimento das famílias. Os céticos duvidam da existência do vírus e negam o poder assassino da doença. Alguns céticos acreditam que esse vírus não passa mesmo de “uma gripezinha”.

Considerando que o povo brasileiro é muito religioso, pensamos que a ideia do escritor Tcheco Franz Kafka pode nos ajudar nesse momento. Dizia ele: “Existem dois principais pecados humanos a partir dos quais derivam todos os outros: impaciência e indiferença. Por causa da impaciência fomos expulsos do Paraiso, por causa da indiferença não podemos voltar”.

Nessa perspectiva, nunca podemos perder a fé, a esperança, mesmo sabendo que às vezes o adversário é mais forte. O homem crente sabe que no final o Bem sempre vence. Que o poder de um homem consiste nos meios que ele dispõe para lutar. E que à indiferença é o caminho do homem fracassado, a solidariedade o caminho do homem vitorioso.

Por fim, e em solidariedade aos familiares daqueles que perderam algum parente, amigo, conhecido, por causa da Covid-19 nesse país, eu suplico ao Ser Superior, assim como fez Chico Buarque em 1978: “Pai afasta de mim esse cálice \ Pai afasta de mim esse cálice \ Pai afasta de mim esse cálice \ De vinho tinto de sangue”.

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). E-mail: [email protected] | Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg

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