Na semana passada, assistir ao filme “O dilema das redes”, um documentário da Netflix que expõe a possibilidade das pessoas se viciarem nas redes sociais de uma maneira comparável ao uso de drogas. O filme apresenta “depoimentos” de ex-funcionários de empresas como Instagram, Facebook, Twitter, Google. Pessoas que ocuparam os mais altos cargos dentro dessas empresas e que por isso mesmo sabem o que estão dizendo. Muitos desses altos executivos foram os criadores de ferramentas de engajamento dos usuários nas redes sociais, tornando essas ferramentas “uma necessidade vital” e assim aumentaram infinitamente os algoritmos das empresas.  

O documentário destaca a importância da inteligência artificial na democratização de serviços e produtos pelo mundo, no entanto, alerta para a disseminação de notícias falsas e teorias da conspiração, facilitando a manipulação política. Ou seja, o documentário faz um relato preciso de que as redes sociais estão destruindo nossas vidas, nossas famílias, a vida de nossas crianças, de nossos jovens.  

Quando terminei de assistir ao filme, fiquei me perguntando: por que esses homens estão dizendo o que estão dizendo? Qual o interesse por trás de tudo isso? O que eles querem? Será que eles estão falando à verdade? Nada nas redes sociais é por acaso, sem intensão, inocente; pelo contrário, tudo, mas tudo mesmo, desde uma simples curtida, um comentário, tanto faz ser positivo ou negativo, tudo visa aumentar o lucro das empresas.  

O tempo que ficamos conectados, nas redes sociais, com o celular na mão, deixamos de viver experiências reais, significativas e dignificantes para à vida em sociedade. O documentário escancara o domínio que as redes sociais exercem na vida das pessoas, dos adolescentes e jovens, principalmente, no cotidiano da sociedade, influenciando na forma em que pensamos, agimos e vivemos. 

Afirma, ainda, que o uso excessivo das redes sociais tornam as pessoas infantilizadas, incapazes de distinguir o real do imaginário. Aponta que houve aumento significativo de suicídio, depressão, tristeza, automutilação, desgosto, desprezo pela vida, entre crianças, adolescentes e jovens de ambos os sexos. Uma geração inteira que não sabe lidar com problemas reais. Um exemplo dessa distopia é que muitos jovens preferem relacionamentos a distância, online, do que presencial. 

Fica claro no documentário que o maior problema das redes sociais é que elas criam uma falsa sensação de liberdade, gerando daí conflitos de todas as ordens, principalmente polarização sobre o que é certo e o que é errado, sobre a verdade. Aliás, a verdade é o que menos importa nas redes sociais. As chamadas fake news geram mais engajamento do que a verdade. 

Sabedores dessas teorias, de que a maioria dos seguidores das redes socais tornam-se consumidores, eleitores, seguidores ferrenhos, alienados, cegos a toda falta de caráter de seus líderes; muitas empresas, governos, investem muito dinheiro para aumentar o engajamento nas redes sociais. E aí, muitos desses políticos formam grupos, comunidades, dos mais variados perfis, como por exemplo, de caçadores, atiradores, cristãos evangélicos, tudo para atingir seus objetivos: conquistar e manter-se no poder. 

Infelizmente, quando esses políticos chegam ao poder não conseguem mudar a vida da população e continuam a fomentar a polarização, governando apenas para os seus seguidores, os seus eleitores, numa intensa e constante guerra de “nós” contra “eles”, do “bem” contra o “mal”, do “capitalismo” contra o “comunismo”, “direita” contra “esquerda”, tudo o que está acontecendo no Brasil atual e em vários países da América Latina, Europa e em vários países pelo mundo. 

Ora, a vida humana é muito mais complexa do que essa dicotomia. No entanto, não podemos deixar de acreditar na democracia, nas instituições. Os objetivos desses governos, dessas empresas, das redes sociais, não são nobres. Eles não estão lutando pela cura do câncer, pelo fim do aquecimento global, por mais emprego, pelo fim da segregação racial, social. Eles só querem poder e lucro, e é só nisso que eles pensam! 

Se não mudarmos a forma como estamos nos relacionando com as redes sociais, com a natureza, com a política, com a cultura, com a religião, com a ciência, se não formos capazes de dialogar com o outro que é diferente de mim, que vive diferente, que vota diferente; enfim, se não formos capazes de resolver nossos problemas reais, como trabalho, saúde, educação, entraremos numa guerra de todos contra todos e será o nosso fim. 

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021.  

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