O deputado Ivan Valente, do PSOL de São Paulo, apresentou requerimento na Câmara Federal, pedindo a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a eventual existência de um “orçamento paralelo”. Segundo o Estadão, trata-se de uma verba de três bilhões de reais, que teriam sido liberados pelo Executivo “para obras e máquinas agrícolas indicadas por deputados e senadores”. No requerimento, pondera-se que “a criação de orçamento paralelo, com execução condicionada à indicação de parlamentares que votam com o governo, configura verdadeira compra de votos e fere gravemente a autonomia do poder legislativo e a separação de poderes”.

Não se pode dizer que se trata de um filme novo, com enredo original. No passado recente, tal atividade ilícita entrou para a história com o nome de “mensalão”, daí porque a prática atual já recebeu o apelido de “bolsolão”. Apelido muito bem aplicado, aliás, na medida em que desmascara o atual presidente e sua suposta política de austeridade, mostrando um conluio espúrio entre o executivo e parlamentares do baixo clero.

Eleito a partir da onda antipetista que assolou o país em 2018, Bolsonaro alardeou aos quatro cantos que iria inaugurar uma nova era, uma “política nova” em que a corrupção não teria lugar. Se efetivamente pretendeu caminhar nessa direção, perdeu o rumo e, com o bolsolão, revela intimidade obscena com as práticas mais abjetas do uso do poder.

Mas não era de esperar outra coisa do governo que aí está. Presunçoso, arrogante, mal educado, Bolsonaro é um governante que não revela o mínimo respeito pelo povo, com tem demonstrado ao longo do curso da pandemia. Fixado em cloroquina, não se peja de recomendar o uso desse medicamento, apesar de, pelo mundo afora, as maiores autoridades no assunto afirmarem sua inocuidade e absoluta imprestabilidade no enfrentamento do vírus.

Quando confrontado, o atual presidente não vacila em exibir sua face mais autoritária, disparando pornofonias e atacando a liberdade de imprensa. Não foi por outro motivo que, indagado sobre o bolsolão, não se limitou a negar-lhe a existência, por isso que chamou os jornalistas de “canalhas”, assim como se se pudesse ter por canalhice a simples divulgação de uma ilegalidade.

Mais recentemente, Bolsonaro tem falado de forma exaustiva na edição de um decreto, que, segundo ele, não poderá ser contestado por ninguém e que terá a finalidade de dar interpretação ao artigo 5º da Constituição Federal. Na paranoia governamental, esse decreto milagroso teria o condão de impedir que prefeitos e governadores adotem medidas tendentes a estabelecer o isolamento social, como forma de prevenção contra a pandemia. É tudo uma tremenda tolice. O quinto artigo da Carta, envolvendo os direitos e garantias fundamentais, não se presta ao fim que o tão prefalado decreto objetivaria.

Mas Bolsonaro não ofende a nossa inteligência apenas com seus arreganhos autoritários. Também o faz no cotidiano de sua vida particular, como demonstrou na comemoração do Dia das Mães. Promoveu churrasco à beira da piscina do Palácio da Alvorada, para parentes e amigos. Até aí nada demais. Seria apenas mais uma confraternização, típica daquela data. Acontece que, segundo a Folha de São Paulo, a peça de resistência do tal churrasco foi a picanha do gado da raça wagiu, de origem japonesa. Aparentemente nada demais de novo. Mas não é bem assim: a tal picanha custa, nada mais, nada menos que R$1.799,99 o quilo. É isso mesmo que você leu: um mil, setecentos e noventa e nove reais e noventa e nove centavos por um quilo de picanha. É churrasco para fazer inveja a qualquer milionário. Será que algum ingênuo vai achar que o presidente usou o seu “rico dinheirinho” para financiar a comilança? Se achar merece continuar sendo enganado por esse governo mesquinho e sem princípios.

De minha parte, fico esperando que baixe o preço da picanha normal para poder fazer um churrasco. Não está fácil.

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