A declaração do presidente Jair Bolsonaro de que “ordens absurdas não se cumprem” começou a fazer efeito entre os seus apoiadores mais radicais. Intimados a depor à Polícia Federal nesta semana, alguns alvos do inquérito que investiga uma suposta rede de fake news e de ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) disseram que não vão comparecer por não reconhecerem a legitimidade do processo contra eles.

“Eu não vou depor na Polícia Federal, porque eu considero esse inquérito inscontitucional. Eu não vou dar nenhum tipo de legitimidade a essa ação”, disse a VEJA o deputado estadual Douglas Garcia (PSL), de São Paulo. “Esse inquérito está sendo usando como factóide para perseguir aqueles que apoiam o governo Bolsonaro”.

O seu chefe de gabinete, Edson Salomão, líder dos movimentos Direita SP e Brasil Conservador, também foi na mesma linha: “Ante a esse estado de ilegalidade, declaro que não posso deferir a esse procedimento do inquérito a fidalguia solicitada, uma vez que percebo, cada vez mais, a falta de reciprocidade e apreço à lei da instituição que o promove”, escreveu ele no Twitter.

Os alvos foram intimados a irem à sede da PF entre esta quarta 3 e quinta-feira, 4. O mesmo ocorreu com a ativista Sara Winter, que foi às redes sociais expor a sua revolta. “Eu me nego a ir nessa bosta. Não vou prestar esclarecimentos sobre a minha conduta ordeira e disciplinada de cidadã brasileira”, disse a militante que lidera um acampamento bolsonarista em Brasília.

Ao descumprirem a intimação da PF, os bolsonaristas podem ser acusados de crime de desobediência e serem alvos de uma condução coercitiva – quando os alvos são conduzidos forçadamente a prestar depoimento. “As autoridades são o STF e a PF. Se acharem conveniente essa ação, é claro que eu vou ter que obedecer”, afirma Garcia.

A intimação traz o seguinte “aviso”: “Os intimados que não comparecerem sem motivo justificado serão depois conduzidos mediante mandado escrito de autoridade policial e incorrerão em crime de desobediência”.

Nesta semana, o governo Bolsonaro fez gestos de aproximação com o STF após a escalada de hostilidade entre os dois Poderes. O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, foi falar pessoalmente com o ministro Alexandre de Moraes, que preside o inquérito das fake news, na segunda-feira 1º.

A sinalização de trégua irritou os bolsonaristas mais radicais, que têm pedido uma reação mais enérgica do governo contra o que consideram um “golpe”. Apesar de ter o apoio dos filhos do presidente, essa ala mais ideológica não encontra respaldo entre os militares. (veja.com)

Artigo anteriorAssembleia Legislativa aprova Projeto de Lei que pune professores investigados por pedofilia  
Próximo artigoApós morte em acidente de trânsito, família questiona soltura de motorista alcoolizado