Como todos sabem, há mais de vinte anos labuto na área da educação, tanto na rede pública como no ensino particular em Manaus. Durante todo esse tempo, participei, vi e ouvi, direta ou indiretamente, de vários causos pedagógicos que agora compartilho com você. Nesse primeiro momento serão quatro causos. Se Deus me conceder saúde e tempo escreverei outros causos. Eles estão todos aqui, na minha mente, prontos para saltar para à tela do computador. Espero que você leia e goste!

Outrossim, como participante direto em muitos desses causos, omitirei nomes, locais e alguns detalhes a mais para não expor os personagens principais e certamente não vim a responder nenhum processo. Ou seja, valendo-me da linguagem escrita e da imaginação, apresentarei uma outra versão desses causos, agora, pelo viés da literatura.

Devo explicar também, que o título se chama “causo pedagógico” porque há uma mensagem, uma lição, educacional ou moral, a ser compreendida, apreendida, entendida, percebida, ensinada. Ficarei muito feliz e certamente terei atingido o meu objetivo se o(a) leitor(a) assim entender esses causos pedagógicos. Boa leitura!

O primeiro causo é esse: o professor que nem sabia ligar o computador. Manaus, abril de 2020, primeiro dia de aula pós-lockdown do professor João da Silva*: – “Então vamos nós” – disse para si mesmo enquanto tirava o seu laptop da caixa. Detalhe. Desde quando ele recebeu o computador da Secretaria Municipal de Educação, três anos atrás, ele nunca mais tinha pegado no computador.

Assim, sem muita familiaridade com à máquina, foi logo pedindo socorro ao filho adolescente: – “Filho, como se liga esse troço aqui?” – “Será que essa droga ainda presta? – indagou o filho enquanto este conectava o computador na tomada. – “Não sei pai, vamos aguardar um pouco”.

Não demorou muito, acho que uns dez minutos, um pontinho branco começou à piscar na tela do computador do professor João: – “Pronto pai, o seu computador já pode ser usado”. – Filho, está dizendo aqui que precisa de senha. Que senha é essa? – A sua senha pai. – Eu não cadastrei nenhuma senha filho – Só um minuto pai.

O filho adolescente resetou à antiga senha do computador. – Agora sim pai, pode usar o seu computador. A sua nova senha é… – Muito obrigado filho. – Não precisa agradecer pai. – Não sei o que eu seria sem você.

Quando o adolescente já ia se retirando novamente, o professor João voltou a indagá-lo: – Filho, está dizendo aqui que precisa de um e-mail. Que e-mail é esse? – O seu e-mail pessoal papai. – Eu não tenho nenhum e-mail pessoal filho. – E o e-mail da Secretaria Municipal de Educação o senhor tem? – Tenho sim filho, mas não lembro a senha. – Só um minuto pai que eu vou resolver essa situação para o senhor.

O filho do professor João mandou uma mensagem para o setor de informática da Secretaria Municipal de Educação solicitando um novo e-mail para o seu pai e em questão de minutos foi atendido. – Pronto papai, problema resolvido. O seu novo e-mail foi criado com sucesso. A sua senha é a mesma, não esqueça. – Obrigado filho. Realmente sem você eu não saberia ministrar aula pelo computador. Sou da época do quadro-negro e giz.

O filho observado a dificuldade do seu pai com o computador, disse: – Papai, os tempos mudaram e o senhor precisa se adaptar a essa nova realidade. – Eu sei filho. Eu estou tentando, mas não é fácil para mim. – Eu lhe entendo papai. Mas o senhor precisa se esforçar mais. Precisa parar de ter medo do computador. Ele não morde.

Depois de um breve silêncio, pensando sobre à facilidade que as crianças e os adolescentes de hoje em dia têm com à tecnologia, no seu papel de pai e educador, falou ao filho: – O que será de mim como professor, filho? Me diga aí? Será que eu sobreviverei a esse nosso tempo?

– Não se preocupe papai, a sua geração é uma geração de pouca informação e muito conhecimento. Hoje temos muita informação e pouco conhecimento. – Verdade filho, você tem razão. Mas para quer tanto conhecimento se não sabemos usar à tecnologia? – Você tem razão pai, a teoria pela teoria não serve para nada. – É um mundo muito difícil de ser compreendido. Os valores parecem que estão trocados!

O filho tentando acalmar as dores e as angústias do seu pai, lhe disse: – Não se preocupe papai, a maioria dos pais dos meus colegas de escola também tem as mesmas dificuldades e dúvidas que as suas. – Muito obrigado meu filho, mas isso não me ajuda em nada. A única coisa que eu sei é que…

O despertador do celular do professor João tocou informando que era hora de tomar o remédio para pressão alta. – Vamos fazer assim meu filho, a partir de hoje você será o meu assistente. Você topa? – Conte comigo pai. Vou lhe ajudar no que for possível. – Muito obrigado filho. Eu sabia que poderia contar contigo.

*Nomes fictícios, pessoas reais

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e escritor, autor do livro: “Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas”.
Instagram: @professorluislemos
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