Já passava das quinze horas quando dona Judite chegou na reunião de pais e mestres da escola municipal Esperança, onde seus filhos estudavam. A professora Idelvanir que coordenava a reunião no lugar da gestora, estava falando: — Senhores pais, mães e responsáveis. É fundamental que vocês deixem o contato de vocês na secretaria.

Dona Judite levantou a mão pedindo a palavra. Ela foi autorizada pela professora Idelvanir, e começou a falar: — Professora, a gestora da escola conhece a minha história. Acredito que a senhora também. Mas os meus colegas aqui, os pais, não conhecem. Então, deixa eu me apresentar.

— A senhora tem cinco minutos — disse a professora Idelvanir. — Eu não vou levar nem três minutos, professora! Eu tenho a vida muito simples. Não tenho muito o que dizer.

Depois de puxar o folego, ela continuou: — Eu moro com o meu marido e meus sete filhos debaixo de um viaduto, numa área nobre da cidade. Alguém sabe por que construímos o nosso barraco lá? Porque lá é o único lugar que quando chove não alaga.

— A senhora é feliz vivendo assim? — perguntou um pai. — Alguém é feliz vivendo na pobreza? — respondeu indagando dona Judite. — Toda intervenção será descontada do seu tempo dona Judite – falou a professora Idelvanir, conferindo o tempo no relógio de pulso.

— Essa mãe chegou atrasada e agora está aí falando coisa sem sentido, coisa que não tem nada a ver com a pauta da reunião — protestou outro pai reclamando da demora daquela reunião.

— Seja objetiva dona Judite – interveio, mais uma vez, a professora Idelvanir. — Diga o que a senhora tem que dizer!

— Professora, eu estou tentando dizer que apesar da minha pobreza, eu acompanho os meus filhos na escola. A senhora mesma sabe o quanto eu participo da vida escolar dos meus filhos. Mesmo sem endereço fixo, quando sou chamada na escola, nunca deixei de comparecer.

— Isso é verdade — confirmou a professora Idelvanir balançando a cabeça positivamente. — Obrigado professora! — disse dona Judite e continuou. — No entanto, tem pais aqui, que moram bem próximo a escola, que nunca aparecem. Só aparecem no início e no final do ano, só para reclamar…

Dona Judite ainda estava falando quando uma outra mãe tomou para si a palavra: — A dona Judite está coberta de razão. Temos pais aqui que nunca aparecem na escola. — Vocês acham que a escola é depósito de criança?

— Permita-me professora — pediu um pai de aluno. —  Diga seu João. Pode falar — autorizou a professora Idelvanir. — Não existe educação feita somente por um lado. Educação é um trabalho coletivo, primeiramente, por nós pais, depois pela escola, pelos professores. Tem que ser um trabalho em equipe.

— É isso que queremos — retomou a palavra a professora Idelvanir. — Sem o apoio de vocês, muitas vezes, nos tornamos animais primitivos. Com o apoio de vocês a educação torna-se um caso de sucesso.

— Eu também – retornou a falar o senhor João — quando eu sou elogiado no trabalho me sito revigorado, produzimos melhor, somos mais racionais. — É justamente sobre isso que estamos falando. Quando os nossos professores são elogiados, assim como quando os nossos alunos, funcionários, as incertezas são deixadas de lado e tudo melhora — reforçou a professora Idelvanir.

— Como eu sempre falo para os meus filhos: é preciso ter fé, esperança e paciência que tudo vai dar certo — disse dona Judite. — Nossa mana, você arrasou! — disse uma outra mãe.

— Eu também concordo dona Judite, a senhora arrasou! — falou a professora Idelvanir e continuou. — O futuro para nós já chegou: é hoje! Agora, para os nossos alunos ainda não: é amanhã! Precisamos cuidar do futuro de nossas crianças e o futuro delas dependem da educação que elas recebem. Então, vamos nos esforçar, nós de cá, como escola, e vocês daí, como família, para oferecer a melhor educação do mundo para elas. Tenham certezas de que aqui vamos elogiar vossos filhos quando eles fizerem bem as atividades, quando eles merecerem, mas também, vamos corrigi-los quando eles precisarem de correção. Como disse o senhor João “Educação é um trabalho coletivo”. Muito bem, aqui encerramos a nossa reunião e desejamos a todos um feliz ano escolar!

 

Luís Lemos é filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente, Editora Viseu, 2021. Para comprar os livros do professor Luís Lemos acesse o link https://www.eviseu.com/pt/livros/2508/filhos-da-quarentena/ ou entrando em contato com o próprio autor pelo número (92) 988236521 Para segui-lo, inscreva-se no seu canal no youtuber https://www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg

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