Apesar do avanço tecnológico visto na última década, pelo menos 77 milhões de moradores das zonas rurais de países da América Latina e Caribe ainda não têm acesso à internet com padrões mínimos de qualidade, mostra pesquisa feita pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Microsoft divulgada nesta quinta-feira, 29.
Dos 24 países latino-americanos e caribenhos pesquisados pelo estudo, que traça um panorama sobre a situação da conectividade rural na região, ao menos 71% dos moradores dos centros urbanos têm opções de acesso à internet com melhor qualidade, enquanto apenas 36,8% da população das zonas rurais possui alguma forma de conectividade. Para esse último grupo, a rede 4G e o smartphone são os meios com maior utilização.
Segundo os envolvidos no estudo, essa diferença entre os grupos prejudica os potenciais social, econômico e produtivo de toda a região. “A falta de conectividade não só impõe uma barreira tecnológica. É também uma barreira ao acesso à saúde, educação, serviços sociais, trabalho e economia em geral. Se não acabarmos com essa diferença, ela vai crescer e tornar a região, que já é a mais desigual do mundo, ainda mais desigual”, disse Marcelo Cabrol, gerente de Área Social do BID.
O número é ainda mais preocupante quando se considera o total de moradores das zonas rurais na América Latina e Caribe que não têm nenhum tipo de serviço de conectividade. Ao menos 244 milhões de pessoas de toda a região não possuem nenhum tipo de acesso à internet, o que equivale a 32% da população. Desse total, estima-se que 46 milhões vivem em zonas rurais.
No entanto, o IICA ressalta que os números ainda não traçam um cenário real da situação, já que apenas 50% dos países estudados forneceram dados estatísticos oficiais sobre o tema. Para suprir essa falta de informação, índices de organizações como o BID e a União Internacional de Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês) foram utilizados. Por meio desses dados, o instituto conseguiu separar os países da região em três grupos, conforme a qualidade do acesso à internet nas zonas rurais de cada um deles.:
Países com conectividade significativa:
Grupo representa 37% da população rural estudada. Nesss países, de 53% a 63% de quase 43 milhões não têm internet de qualidade.
- Bahamas
- Barbados
- Brasil
- Chile
- Colômbia
- Costa Rica
- Panamá
Países com conectividade média:
Grupo representa 35% da população rural estudada. Nesses países, de 64% a 71% de quase 40,4 milhões não têm internet de qualidade.
- Argentina
- Equador
- México
- Paraguai
- República Dominicana
- Trinidad e Tobago
- Uruguai
Países com conectividade baixa:
Grupo representa 28% da população rural estudada. Nesses países, de 71% a 89% de quase 32,5 milhões não têm internet de qualidade.
- Belize
- Bolívia
- El Salvador
- Guatemala
- Guiana
- Honduras
- Jamaica
- Nicarágua
- Peru
- Venezuela
Entre os problemas para alavancar a qualidade da conectividade nessas regiões, o IICA aponta que, além da ausência de dados oficiais, são impeditivos a falta de estrutura básica, como a precariedade das redes de energia, a inacessibilidade aos territórios, seja pela falta de estradas ou pela violência, e o alto custo dos serviços e equipamentos para os moradores das zonas rurais.
Desenvolvimento
A falta de investimento prejudica não só os moradores das zonas rurais, mas também o próprio governo, já que, segundo o estudo, a melhora da conectividade pode ajudar a alavancar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) dos países e também do PIB per capita.
A União Internacional de Telecomunicações mostra que um aumento de 1% no acesso à banda larga fixa resulta em crescimento de 0,08% do PIB, enquanto o aumento de 1% em redes móveis terá impacto de 0,15%. Estima-se ainda que esse mesmo investimento de apenas 1% em equipamentos e conectividade em geral também pode gerar impacto de 0,13% no PIB per capita.
Para Luciano Braverman, diretor de Educação da Microsoft América Latina, “é importante ressaltar o grande impacto positivo social e produtivo que a conectividade plena teria nas áreas rurais”. Segundo Braverman, uma população conectada tem oportunidade de trabalhar e gerar renda, e de acessar conhecimentos e informações que alimentam o trabalho, além de favorecer a educação online. (Estadão)