Como professor de escola pública em Manaus e no interior do Amazonas reconheço à importância do livro didático no ensino. No entanto, reconheço também que o livro didático não pode ser o único instrumento que o professor possui para ministrar suas aulas. Com efeito, essa é uma realidade que atinge grande parte das escolas. Em muitas delas, inclusive das quais já trabalhei em Manaus, o livro didático era o único instrumento pedagógico do professor.

O livro didático deve ser entendido como um instrumento pedagógico a mais que o professor dispõe para facilitar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. É uma ferramenta que contribui para a formação de estratégias de ensino do professor. Em hipótese alguma o professor pode negligenciar o poder do livro do livro didático. Em muitas escolas ele é a única fonte de pesquisa do aluno. Ele é tão importante na educação que tem até um dia especifico, 27 de fevereiro, Dia Nacional do Livro Didático.

Nesse sentido, o livro didático deve ser um ponto de apoio para auxiliar o professor na medida em que ele traça um caminho e uma sequência para a aprendizagem, evitando que ocorram lacunas que prejudiquem o entendimento dos conteúdos. Além disso, o livro didático representa uma fonte confiável de consulta, tanto para os professores quanto para os alunos e as suas famílias. Em outras palavras, o livro didático é uma forma econômica de socialização do conhecimento.  

Segundo o Fundo Nacional da Educação (FNDE), todos os anos cerca de 150 milhões de livros didáticos circulam por mais de 140 mil escolas brasileiras e chegam a 40 milhões de estudantes. O Ministério da Educação (MEC) faz um investimento de R$ 1,9 bilhão anualmente em obras didáticas. O problema que vemos aqui é que na maioria das vezes os professores não são consultados e quando são suas ideias não são levadas em consideração. Nesse sentido, o livro “escolhido” será sempre aquele que as editoras atenderem as exigências dos governantes locais.

Como o livro que a escola recebe geralmente não é o mesmo que o professor escolheu, ele precisa “adequar” o conteúdo e seu conhecimento à realidade do aluno. Só que para fazer isso o professor precisa de tempo, e como a maioria dos professores trabalham em três turnos, ele nunca tem tempo para fazer essa adequação, e assim os livros não são usados. Por isso, toda escola que conheço tem um depósito de livro didático. Se você acha que isso não é verdade, procure uma escola perto de sua casa, e veja se eu estou falando à verdade ou a mentira.

Dessa forma, pensamos que a escola deve rever o seu papel. Ela não pode ser vista apenas como o local onde o governante impõe sua força política, sua ideologia. Acreditamos que o papel principal da escola deve ser de formar cidadãos, que tenham noção de ética, cidadania, noção de responsabilidade, incluindo responsabilidade ambiental. Num tempo em que instituições democráticas são atacadas, formar alunos críticos e conscientes de seu papel social é imprescindível para separar o falso do verdadeiro, as chamadas fake news.

Em suma, o maior desafio da escola e dos professores atualmente está em proporcionar um espaço que priorize a ação crítica dos alunos mediados por profissionais que, além de possuírem um olhar para as mudanças, também utilizem todos os recursos disponíveis, principalmente as novas tecnologias, como instrumentos pedagógicos de aprendizagem.

Por fim, e não menos importante, defendemos uma escola que, com livro didático ou sem livro didático, possibilite ao professor e ao aluno um espaço para o pensamento crítico, instrumento imprescindível para a construção da cidadania.  

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). Fone: 988236521. E-mail: [email protected]

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