Bolsonaro não tem jeito: o que era para ser comemoração da independência ele conseguiu transformar num espetáculo deplorável de ódio, ressentimento e de pregação antidemocrática. Não que isso tenha sido novidade. Muito ao contrário. O dia-a-dia do presidente é gasto com ações voltadas para esse mesmo objetivo, de tal maneira que dele não se poderia esperar outra coisa.

Na sua raiva insana, Bolsonaro vociferou que, daqui por diante, não cumprirá decisões do ministro Alexandre de Morais, do Supremo Tribunal Federal. Como é que alguém pode aceitar ou explicar tamanha boçalidade? O episódio só revela o verdadeiro caráter do bolsonarismo: querer governar sem poder judiciário, de tal maneira que haja apenas a manifestação do executivo.

Esse é o ideal de Bolsonaro. Para ele, o golpe de Estado perfeito seria aquele que fechasse pura e simplesmente o Supremo e os demais tribunais, de tal maneira que, mantendo-o à frente do poder executivo, poderia ele governar sem peias e sem limites às suas ações demenciais.

Recebeu (felizmente) dura resposta do ministro presidente da Corte suprema. De maneira até didática, o ministro Luís Fux fez ver que não é possível falar de estado democrático de direito sem que o equilíbrio entre os três poderes esteja devida e definitivamente afinado, de tal sorte que haja a sonhada harmonia entre eles.

Mas só quem não sabe disso é o próprio Bolsonaro. Talvez até saiba, mas sua vocação autoritária não lhe permite reconhecer essa evidência primária. Descortês, mal educado, de linguagem grosseira e chula, vai ele levando a presidência da República como se estivesse tratando com os filhos que, numa comprovação da genética, são-lhe a cara e o espírito.

O pior é que ele passa para seus aliados e admiradores a ideia de que quem não se alinhar com essa conduta estúpida, não é patriota e não quer o bem do país. É preciso ter muito cuidado com esse canto de sereia. Foi para evitar de ser por ele envolvido que deliberei mandar fazer adesivos com os seguintes dizeres: “Sou patriota. Fora Bolsonaro” e com a imagem da bandeira nacional. Meu carro já está devidamente adesivado e espero que os sãos sigam na mesma direção, como forma de protesto contra a ignorância.

Pensar que, teoricamente, ainda temos que aguentar um ano, três meses e alguns dias desse governo é angustiante. E não se trata apenas de uma questão de preferência ideológica. Longe disso. É questão de sobrevivência mesmo, bastando ver a elevação do preço da cesta básica (comida, gás etc.) e a inflação que já está fora de controle desse Ministério da Economia, que só atende aos interesses do grande capital.

Quem tem o mínimo de bom senso neste nosso país não pode baixar a guarda. Bolsonaro não deu o golpe, mas é evidente que dele não desistiu. Vai voltar à carga com certeza. Chega de leniência com o golpismo. Vamos ficar alertas e denunciar, por todos os meios possíveis, qualquer nova agressão ao estado democrático e de direito.

Ditadura nunca mais.

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