Internamente, estamos cansados de saber que os pronunciamentos de Bolsonaro nunca trazem coisa boa. Com as suas idiossincrasias, o presidente costuma misturar alhos com bugalhos e fazer confusões com coisas tão distintas quanto a pandemia e o avanço da inflação.

Seria demais esperar que ele tivesse o mínimo de sensatez e não levasse esses disparates para o plano internacional. Assim foi que, com a maior desfaçatez, foi ele fazer seu discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas. O tom foi o mesmo dos anteriores, com o acréscimo de algumas mentiras relativas à maneira como ele próprio tem tratado a pandemia no país.

Convenhamos que deu para sentir vergonha. Primeiro pela postura incivil e anticientífica com que ele continua a abordar a questão da vacinação e, ao depois, pela visível insinceridade com que tratou os acontecimentos do último dia 7 de setembro. Segundo ele foi a maior manifestação já vista em terras brasileiras. Está longe de ser verdade. Mas aí não é só o aspecto numérico de participação nos atos; a coisa tem conotação mais séria, por isso que envolve a própria destinação das aglomerações convocadas e provocadas pelos canais oficiais.

Bolsonaro omitiu que, com o ambiente daqueles dias, estava ele preparado para, irresponsavelmente, provocar uma ruptura institucional, fosse por agressão física direta ao Supremo Tribunal Federal, fosse pelo desrespeito a alguma decisão da Corte ou de um de seus ministros. Convém não esquecer que Bolsonaro havia alardeado, em alto e bom tom, que não cumpriria mais qualquer decisão emanada do ministro Alexandre de Morais.

Viu-se, depois do fracasso da onda golpista do dia 7, que tudo era pavoneamento inconsequente, expressão de uma retórica viciada em desconhecer conceitos elementares do estado democrático de direito e, por isso mesmo, acostumada a realizar atentados verbais contra suas instituições.

Acredito que Bolsonaro tenha achado bonita a foto em que ele aparece almoçando na rua, porque foi impedido de entrar no restaurante em virtude de não ser vacinado. É típico dele entender que, com esse tipo de postura, ele se mostra popular e mais próximo do povo. Só mesmo uma aberração pode se vangloriar de um vexame dessa ordem. Insisto: ninguém teria nada a ver com essa e com outros tipos de loucura se tudo viesse de um cidadão anônimo. Acontece que o infeliz é o Presidente desta nossa República e eu, por exemplo, aqui na minha insignificância, nunca lhe dei um mandato que o autorizasse a expor meu povo e minha pátria ao ridículo, aos olhos do mundo inteiro.

Sem o mínimo de respeito pelo cargo que ocupa, Bolsonaro continua em sua caminhada desvairada, na qual os pontos marcantes são singelamente estes: governar, nada; fazer política retrógrada, tudo. Se governasse, é possível que os juros não estivessem disparando, assim como seria pensável que o preço dos combustíveis não estivesse em níveis estratosféricos.

Será que esse ministro Paulo Guedes, o coringa de Bolsonaro, não tem coragem de dizer para seu chefe que os preços das comidas estão em ascendência voluptuosa? Ou será que isso é um item que faz parte do programa de “governo” bolsonarista. Seria conveniente que alguém desse uma explicação sobre isso. Do jeito que vão as coisas, a sensação é de que a nau está a deriva, em mares revoltos e sem um comandante minimante preparado. É lamentável,

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