A fala de Michelle foi o clímax de uma noite que, como ela, explorou o tom emocional. Trump foi apresentado nos discursos como um grande risco ao país, pela ameaça à democracia, à saúde da população e à economia americana, além de postura divisiva. A chapa composta por Biden e Kamala Harris, por sua vez, foi apresentada como a solução para tirar os Estados Unidos da crise. Com informações de Estadão.

“Ele teve tempo mais do que suficiente para provar que pode fazer o trabalho, mas ele está claramente perdido. Ele não está à altura do momento, simplesmente não pode ser quem ele precisa ser para nós. É o que é”, disse Michelle. Há poucos dias, Trump usou a frase “é o que é” para responder a uma pergunta sobre a alta taxa de mortalidade por covid-19 nos EUA.

O evento de quatro dias é online neste ano, em razão das restrições de reunião de pessoas durante a pandemia de coronavírus. Em discurso gravado, Michelle pediu que os eleitores que não votaram em 2016 porque não se empolgaram por Hillary Clinton saiam de casa desta vez para eleger Biden.

“Sempre que olhamos para a Casa Branca em busca de alguma liderança ou consolo ou qualquer semblante de estabilidade, o que recebemos é caos, divisão e uma falta de empatia total e absoluta”, disse Michelle. 

Desde o final de 2018, quando lançou o livro “Minha História”, Michelle Obama tem tido um papel poderoso entre o eleitorado democrata. Enquanto Barack Obama se limita a aparições cirúrgicas, Michelle ocupou espaços em praticamente todas as plataformas: livro, turnê de lançamento da obra em proporção similar a show de estrela pop, documentário e, mais recentemente, podcast.  

Ela repete que não gosta de política, na noite de ontem, disse que “odeia”, e usa sua experiência pessoal para se conectar com o público. A receita fez da ex-primeira dama uma das figuras mais populares do partido. 

O tom anti-Trump e a favor de uma unificação deixou pouco espaço para a discussão de propostas da campanha democrata. Além da moderada e carismática Michelle Obama, os pontos-chave da estreia do partido democrata foram o comprometimento de Bernie Sanders com a eleição de Biden e a aparição de quatro republicanos entre os presentes

Sanders prometeu trabalhar “até com conservadores” para derrotar o “autoritarismo” de Trump. A posição do senador independente, que teve destaque na programação de ontem, marca um claro contraste com sua postura de 2016, quando questionou nos bastidores a legitimidade da indicação de Hillary Clinton. 

Tendo no mesmo evento Sanders, baluarte da ala progressista, e republicanos de longa data, como o ex-governador de Ohio, John Kasich, o partido buscava mostrar que o sentimento anti-Trump une esquerda e direita. “Em tempos normais, algo assim provavelmente não aconteceria. Mas estes não são tempos normais”, disse Kasich, acompanhado de outras três republicanas: a ex-governadora de Nova Jersey, Christine Whitman; a executiva e ex-candidata ao governo da Califórnia Meg Whitman; e a ex-deputada por Nova York Susan Molinari.  

Vídeos de pessoas comuns contando suas histórias eram intercalados com os discursos políticos. Os depoimentos muitas vezes não eram de eleitores tipicamente democratas, em um aceno aos independentes e moderados.  Kristin Urquiza, uma jovem cujo pai de 65 anos morreu de covid-19, deu o mais forte testemunho contra Trump. Ao contar sobre a morte do pai, disse que ele era saudável. “Sua única condição (doença) preexistente era confiar em Donald Trump. E por isso ele pagou com sua vida”, disse Kristin. 

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