Da China vem a última ideia para explorar a boa fé do consumidor: comemorar no dia 11 de novembro (11.11) o “Dia do Solteiro”. Não sei, aliás, como essa ideia brilhante e original escapou ao legislador brasileiro. Aqui, com efeito, e como já referi em outras oportunidades, a criação do dia de alguma coisa parece estar sempre presente nas casas legislativas, sejam elas federais, estaduais ou municipais. No caso do solteiro, temos como certo que, em sendo o seu dia criado e comemorado, haverá necessidade inadiável, dialética mesmo, de que seja implantado também o dia do casado. Do contrário, teríamos um calendário injusto por conta de gente que, à falta de alguma ou de melhor coisa para fazer, não se peja de inventar as modas mais bizarras de que se têm notícia.

Falando em bizarrice, impossível esquecer essa coisa monstruosa que a mídia apelidou de “orçamento secreto”. Foi necessária a intervenção do Supremo Tribunal Federal para que o Congresso Nacional deixasse de praticar uma das mais vergonhosas formas de manipulação do dinheiro público em favor de interesses pessoais dos parlamentares, para fins eleitoreiros. As chamadas “emendas do relator” camuflavam um jogo sinistro de atitudes antirrepublicanas, por via das quais deputados e senadores faziam campanha eleitoral com verba do erário, direcionando-a para locais e entidades previamente alinhadas com o autor da emenda. Prática antiética e que tangencia a linha da criminalidade. De estranhar é que só agora a traquinagem tenha sido levada ao conhecimento do judiciário. É coisa antiga, sendo mesmo praxe do dia a dia parlamentar, assim como se fosse fenômeno absolutamente natural.

Enquanto deputados e senadores se distraem com essas brincadeiras de mau gosto, o Congresso deixa correrem soltos os desvarios do governo federal, cujo titular se revela a cada dia mais e mais insano. Nem vou falar do que, com boa vontade, se pode chamar de excentricidades. Pessoalmente, prefiro considerar as deselegâncias e agressões bolsonarianas como produto da falta de educação pura e simples. Mas isso é o de menos se nos dermos ao trabalho de olhar a situação brasileira como um todo.

Mais de seiscentos mil compatriotas perderam a vida, sendo que a maioria deles foi vítima da irresponsabilidade com que Bolsonaro tratou a pandemia, seja minimizando-lhe a importância, seja pleiteando a aplicação de um tratamento que não encontrou respaldo em nenhum dos ciclos científicos vinculados ao assunto.

Paralelamente a isso, vemos a economia nacional entrar em queda abismal, enquanto o ministro respectivo protege sua fortuna pessoal, aplicando o seu dinheiro em paraísos fiscais. Os preços sobem vertiginosamente, sendo os combustíveis a prova mais evidente do descontrole que se implantou no setor. O litro da gasolina está perto de oito reais, valor equivalente a mais de um dólar. E ainda há quem ache que tudo está às mil maravilhas, mesmo sabendo que a inflação, essa praga que a minha geração conhece muito bem, já atingiu os dois dígitos e não se vislumbram mecanismos para reverter o quadro.

A única esperança parece residir mesmo nas eleições do próximo ano. Se as oposições não cometerem a besteira de se devorarem reciprocamente, é perfeitamente viável encontrar um nome que possa substituir esse homofóbico que ora nos “governa”. Até mesmo o Moro, que já foi juiz e ministro e agora se lança na política, pode dar contribuição nesse aspecto para derrotar o bolsonarismo. Não que ele seja muito melhor, mas é que qualquer ajuda é válida quando se trata de salvar o país da insanidade. Afinal de contas, prorrogar por mais quatro anos esse espetáculo de sandice que se implantou no Planalto é, para dizer o mínimo, dose para elefante.

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