Este é o período – todos sabem – em que se fazem promessas a serem cumpridas no ano que se avizinha. “Vou perder peso”, diz a madame depois de devorar dois pacotes de chocolate, devida e zelosamente guardados no refrigerador. “Vou estudar mais”, pensa o jovem em cujo currículo ainda avulta a reprovação no ENEM. “Vou roubar mais e melhor”, elucubra o mandrião encastelado em altos negócios da República e sempre disposto a aumentar um patrimônio já de si respeitável.

Quantas dessas promessas serão efetivamente implementadas, impossível sabê-lo. A vontade, sobretudo a que é voltada para o bem, arrefece com o passar do tempo e lá veremos a gorda senhora a se entregar ao consumo de mais guloseimas, enquanto o moço, diminuído o ímpeto inicial, vai voltar ao celular e ao videogame, esquecendo livros e escola. Já a proposição do gatuno, essa talvez encontre viço na própria disposição do meliante que, correndo solto e sem barreiras, haverá de continuar se refestelando à custa do suor e do esforço alheios.

De qualquer forma, 2022 se aproxima cheio de expectativas e (por que não reconhecer?) de muitas esperanças. Teremos nova Copa do Mundo e não existe brasileiro digno desse nome que fique indiferente ao desempenho da seleção nacional. Mesmo o vexame dos sete a um sofrido dentro de casa não conseguiu arrefecer essa paixão que, de quatro em quatro anos, se manifesta avassaladora. Tenho orgulho de dizer que não integro o time daqueles que costumo chamar de “patriotas da Copa”. São aqueles que só lembram de que o Brasil tem um hino e uma bandeira quando os jogadores estão perfilados em campo. Não. Meu amor pelo Brasil transcende essas eventualidades e, durante todos os dias do ano, os amigos que me visitam podem ver o pavilhão nacional exibido bem na entrada da casa.

Falando nisso, impossível esquecer de mencionar que o próximo ano terá também eleições nacionais. Estarão em disputa os governos federal e estaduais, bem como cadeiras no Congresso e nas Assembleias Legislativas. Aí, sim, surge a grande esperança. Outubro será o momento de desfazer o enorme equívoco nacional, cometido há três anos, quando o povo optou pelo que havia de mais retrógrado e reacionário no cenário político do país. Entende-se facilmente o que ocorreu. A polarização que então se verificou levou a maioria a preferir o que se apresentava como novo em detrimento do velho, o que é apenas uma contradição dialética básica.

Aconteceu, porém, que o “novo” apenas camuflava uma essência rigorosamente estúpida e desprovida de qualquer compromisso com os mais altos interesses do povo. Deu no que deu. Atrabiliário, negacionista, mal-educado, Bolsonaro envolveu o país com uma aura de mediocridade, cujos efeitos estão presentes em todos os aspectos da vida nacional. E, o que é mais grave, com a camuflagem de uma pretensa postura de nova política.

Agora mesmo, o presidente vem de ironizar a esquerda, desafiando-a a fazer panelaço quando de sua fala de final de ano, que comemorará, segundo ele, três anos sem corrupção. É muita desfaçatez. Bolsonaro não só não impediu a corrupção, como permitiu que ela fluísse esconsa e discreta pelos escaninhos das negociações tenebrosas, fosse pelas manobras do orçamento secreto, fosse pela vergonhosa troca de favores envolvendo cargos e dinheiro.

Se 2022 for o último desse desgoverno já terá um ponto a seu favor para ser historicamente lembrado. Chega de passeios de jet sky, enquanto o povo baiano vive uma de suas maiores tragédias. Se do cidadão comum se exige o mínimo de senso de solidariedade para com seus compatriotas atingidos, para a figura do presidente da República isso se apresenta como um dever cívico. Partindo de quem parte o deboche, porém, nada a estranhar.

Fico por aqui. Vou pensar nas minhas próprias promessas para o ano vindouro. Ler mais é obrigação. Ser compassivo e tolerante também integra a mesma categoria. Votar contra o Bolsonaro é mais do que dever. Tomara que eu consiga cumprir essas metas.

Feliz Ano Novo.

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