Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) está sendo realizado nesta quinta e sexta-feira (22 e 23/07), de forma virtual, o II Simpósio sobre doença de Chagas na Amazônia Ocidental, com o objetivo de proporcionar a estudantes e profissionais da área da Saúde conhecimentos importantes sobre a doença de Chagas, como patologia emergente na região Amazônica.

O evento faz parte da grade curricular do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD), e amparado por meio do Programa de Apoio à Realização de Eventos Científicos e Tecnológicos no Estado do Amazonas (Parev), Edital Nº007/2019, da Fapeam.

O II Simpósio é transmitido via canal Chagasleish-Entom-Amazonia no YouTube, com cerca de 860 participantes inscritos, interessados em ouvir e melhorar os conhecimentos sobre a doença de Chagas, de modo particular, na Amazônia.

Entre os assuntos discutidos, relacionados à doença de Chagas, estão o atendimento e acompanhamento de pacientes, diagnósticos parasitológicos, sorológicos, vetores e reservatórios, bem como de vigilância.

De acordo com a coordenadora geral do evento, Maria das Graças Barbosa Guerra, ao se discutir a respeito da infecção, a comunidade científica pode aprimorar a compreensão sobre a doença de Chagas e fomentar a produção de estudo científico, além da capacitação de agentes de saúde para conhecerem os procedimentos de diagnóstico da doença.

“O diagnóstico precoce é altamente recomendado para que o tratamento seja realizado o quanto antes, visando a redução das graves consequências que a infecção pelo Trypanosoma cruzi pode causar em longo prazo. Estamos diante de um problema de saúde pública global, uma vez que a migração de populações da América Latina para outros continentes dispersou a doença de Chagas, e passou a atingir cada vez mais regiões antes não impactadas”, disse Maria das Graças.

A coordenadora ressaltou que os desafios para diagnosticar e tratar a doença de Chagas na Amazônia ainda são grandes e precisam ser superados. Ela explica que para combater a infecção é preciso enfrentá-la de forma ampla em diferentes frentes, por exemplo, informar a população sobre as maneiras distintas de transmissão, uma vez que a vetorial ocorre de forma acidental, tendo em vista que o inseto conhecido como barbeiro, quando tem o nicho ecológico alterado, acaba invadindo as residências atraído pela luz.

Abertura – A conferência de abertura foi proferida pelo Coordenador de Doenças Negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Pedro Albajar Viñas, que falou sobre o panorama mundial da doença de Chagas, levando em consideração que atualmente a doença se dispersou dos limites da América Latina para outros continentes, principalmente a Europa.

Para o palestrante os três grandes desafios atuais para diagnosticar e tratar a doença de Chagas são a detecção precoce dos casos ou surtos, com a imprescindível notificação, acompanhamento no tempo e no espaço dos afetados, sustentabilidade das ações e conquistas de prevenção e controle.

“A detecção, o acompanhamento e, sobretudo, a sustentabilidade das ações estão diretamente vinculados ao grau de contaminação e envolvimento dos afetados, suas comunidades e organizações da sociedade civil”, disse Pedro Albajar Viñas.

O palestrante do Centro Avançado de Pesquisa (ICB/USP-RO), Luís Marcelo Aranha Camargo, tratou sobre o cenário epidemiológico, em 2021, da doença de Chagas e as formas de transmissão como, a vetorial extradomiciliar, a intradomiciliar sem colonização, a vertical e a oral.

“Cerca de 65 milhões de pessoas, que vivem em 21 países endêmicos das Américas, estão sob o risco da infecção causada pelo protozoário flagelado T.cruzi, e cerca de 12 mil delas, a cada ano, contraem a infecção”, disse Luís Marcelo.

Palestras – Durante o evento serão tratados temas como histórico sobre a associação entre o açaí e a doença de Chagas, vetores de doença de Chagas, reservatórios e Trypanosoma cruzi, cardiopatia chagásica, acometimento cardíaco da doença de Chagas na Amazônia e arritmias – ferramenta na prevenção da cardiopatia chagásica.

Ao todo, serão 22 palestrantes entre médicos infectologistas, cardiologistas, farmacêuticos, biólogos, médicos veterinários e biomédicos, todos com atuação no estudo e/ou assistência à doença de Chagas e que atuam em Instituições como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), FMT/HVD, Secretaria Municipal de Saúde de Manaus (Semsa), Instituto Evandro Chagas (IEC/PA), Centro Avançado de Pesquisa (ICB/USP-RO) e Secretaria de Estado da Saúde de Roraima (Sesau).

Da região Amazônica participam pessoas dos estados do Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Rondônia e Roraima. De outros estados estarão presentes participantes de São Paulo e Rio de Janeiro, além de outros países como Espanha e Suíça (representante da OMS). A programação completa  pode ser conferida em: https://simposiodoencadechagas.com.br/.

No evento também será lançado um e-book sobre doença de Chagas, resultado de um Projeto vinculado ao Programa Pesquisa para o SUS: Gestão Compartilhada em Saúde (PPSUS) da Fapeam.

Doença de Chagas – A doença de Chagas é uma enfermidade infecto-parasitária, causada pelo protozoário T.cruzi, encontrado nas fezes de insetos conhecidos como barbeiros. A doença se manifesta em duas formas clínicas, uma fase aguda e uma fase crônica. Nas duas fases pode haver manifestação ou não de sintomas clínicos. Quando há manifestação na fase aguda os sintomas podem ser febre, miocardites, mialgia (dor muscular), e na fase crônica problemas cardíacos e digestivos são os mais frequentes.

A doença de Chagas é uma parasitose oriunda das Américas, que se expandiu para outros continentes. Na maioria dos países da bacia Amazônica tem sido relatados casos humanos, assim como a infecção natural por T.cruzi em reservatórios animais e triatomíneos.

A Amazônia brasileira é a região onde ocorre maior número de casos da doença de Chagas na sua forma aguda, entretanto, nessa região, o conhecimento sobre a ocorrência da doença ainda é limitado, uma vez que os vetores conhecidos como barbeiros, não têm o hábito de colonizar o domicílio.

O aparecimento cada vez mais frequente de surtos associados à transmissão oral, demonstra a importância de se discutir de maneira compartilhada, com vistas a avançar para um melhor entendimento sobre as peculiaridades da doença na região.

Parev – O Programa Parev  da Fapeam tem o objetivo de apoiar a realização de eventos regionais, nacionais e internacionais sediados no Amazonas, relacionados a CT&I: congressos, simpósios, workshops, seminários, ciclo de palestras, conferências e oficinas de trabalho, visando divulgar resultados de pesquisas científicas e contribuir para a promoção do intercâmbio científico e tecnológico.

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