Senadores que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouvem, nesta terça-feira (4/5), os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. A dupla deixou o governo federal após discordar da postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus.

Os dois médicos puxam a fila das autoridades que serão ouvidas pela CPI, na condição de testemunha. Trata-se de uma estratégia adotada pelos senadores para evitar que os convocados permaneçam em silêncio ou se recusem a comparecer à oitiva.

Internamente, parlamentares da oposição demonstram grande expectativa com a fala de Mandetta, que era o ministro da Saúde quando a pandemia atingiu o Brasil. Os congressistas querem saber se eventuais erros cometidos no início do enfrentamento da crise sanitária acarretaram a explosão de casos registrados no país no último ano, com a situação agravada em 2021.

O foco das perguntas a Mandetta será a política de isolamento social que ele defendia, e o presidente Jair Bolsonaro não concordava. A utilização da hidroxicloroquina recomendada pelo Planalto como tratamento precoce da doença também é um assunto que integra o rol de questionamentos da oposição.

Há, no entanto, um temor da ala governista do colegiado de que Mandetta aproveite o seu tempo na comissão para “fazer campanha política” às eleições presidenciais de 2022. O ex-ministro da Saúde é filiado ao Democratas (DEM) e já declarou que estaria disposto a abandonar a sigla caso o partido opte por apoiar outro candidato no próximo ano.

Da mesma legenda do ex-ministro, mas considerado um parlamentar da base governista, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) dá o tom do que espera: que as perguntas se limitem à gestão de cada depoente. “Não cabe aqui analogia, não cabe aqui visão do que faria se lá estivesse neste novo cenário. O que nós queremos saber é o que fez, como fez e por que fez no momento em que esteve à frente da pasta da Saúde. Dizer que esses depoimentos podem trazer revelações surpreendentes é desconhecer como funciona o sistema público. Os atos são públicos”, assinalou.

O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que se declara “independente”, vê os depoimentos dos ex-ministros como algo positivo. “A expectativa é boa, vamos buscar as decisões da gestão da pandemia deles e o motivo de terem saído de forma precoce. Acho que esse encontro vai caminhar para elucidar algumas questões para nós. Temos muitas perguntas para fazer”, disse.

Mandetta também será questionado sobre a baixa aplicação de testes para monitorar a evolução da Covid-19 no Brasil durante sua gestão. Após saída conturbada do governo federal, em 16 de abril de 2020, o médico virou opositor declarado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Quando deixou a gestão da pasta, o país registrava 1.924 mortes de brasileiros em decorrência da doença.

Ainda nesta terça, os senadores vão ouvir, além de Mandetta, o oncologista Nelson Teich. Com rápida passagem pelo Ministério da Saúde, que não durou um mês, o ex-gestor era contra a adoção de protocolos que defendem o uso de medicamentos sem eficácia comprovada no chamado “tratamento precoce” da Covid-19, divulgado pelo titular do Palácio do Planalto.

“Não vou manchar a minha história por causa da cloroquina”, disse Teich ao se despedir da pasta.

O médico também discordou do chefe do Executivo federal após publicação de decreto que ampliou as atividades essenciais e autorizou salões de beleza, barbearia e academias a funcionarem no período de lockdown. Outro ponto de conflito entre o mandatário do país e Teich foi a flexibilização de normas de isolamento social. Com informações de Metrópoles.

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