Por Carlos Santiago*

O episódio ocorrido naquela praça pública me fez refletir sobre o que é felicidade. Seria uma conquista financeira? Um amor correspondido? Um sucesso profissional? Um título conquistado pelo clube do coração? O nascimento do filho? Algo inalcançável? Uma receita de vida?

Num mundo de comunicações globais, de visibilidades e de mídias sociais, no qual modelos de felicidade e de pessoas são criados artificialmente; em que quem não está na mídia é um infeliz, uma pessoa sem mérito e sem importância social; um mundo onde existe até perfil de pessoas portadoras de felicidade: beleza admirada, bom salário, casamento com celebridade, admirada na profissão, poderoso e que possui fã clube ou bajuladores.

Então, dentro dos padrões e perfis apresentados pelos meios de comunicação, como explicar o fim do casamento da apresentadora Fátima Bernardes com o jornalista Willian Bonner? Casal bonito, com filho(a)s lindos, ricos e com trabalhos reconhecidos na maior empresa de comunicação televisiva do Brasil. Pessoas amadas e admiradas pelos brasileiros.

Acompanhei pela mídia e por documentários, o casamento do século XX, um grande espetáculo assistido por bilhões de seres humanos com transmissão ao vivo, assim como o término daquele matrimônio de Diana, Princesa de Gales, com o herdeiro da coroa britânica, príncipe Charles: um príncipe, um homem rico e uma princesa linda com fortuna financeira, além de pais de filhos sucessores de um reinado.

E também o divórcio da atriz maravilhosa de Hollywood Angelina Julie com o ator Brad Pitt, um símbolo de beleza ideal. Ambos: lindos, ricos, admirados, profissionais prestigiados, com uma família bela e com fã clube global.

Esses fatos são exemplos de que não existem modelos ou perfis ideais para a felicidade. O significado de felicidade é diverso nas várias ciências ou nos saberes humanos e expressões humanas: dependendo da linha religiosa, felicidade pode ser um encontro com o divino ou um viver em equilíbrio. O filósofo Aristóteles diz que a felicidade é o maior objetivo do homem, a sua realização com excelência, alcançado pelo exercício da razão; a psicologia positiva reconhece a felicidade como elementos genéticos, sortes e atitudes individuais e que a fórmula para conquistar a felicidade seria viver o presente, desafiar algo prazeroso para o indivíduo e apreciar as coisas boas da vida.

A felicidade virou até índice de qualidade de vida e de políticas públicas pela Organização das Nações Unidas (ONU) que, anualmente, anuncia os países que investem no bem-estar do seu povo, além da expectativa de vida, da liberdade de expressão, da consciência política e da generosidade dos habitantes.

Até o sistema econômico capitalista tem uma receita de felicidade: o consumo. Felicidade é consumir.

Pois bem. Há dois anos, um cachorrinho numa praça pública me deu exemplo contundente da felicidade sem apelar para o glamour. Ele apareceu, cheirou os meus pés e passou o rosto dele nas minhas mãos. Quanto mais eu passava minha mão na sua cabeça mais o cachorrinho ficava feliz. Eu também! O animal saiu repetindo os mesmos carinhos em todas as pessoas que estavam lá. Ficamos sorrindo e felizes dos carinhos recebidos e retribuídos daquele ser simples, foi contagiante ver e sentir a felicidade sem conceito filosófico, sem padrões da mídia e sem fórmulas psicológicas.

Felicidade é simples, sem significados complexos. Ela pode estar ao teu lado – seu parceiro(a) – nas coisas simples como sorrir com os amigos(a) ou na própria existência, uma felicidade sem preço.

Sociólogo, Analista Político e Advogado*

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