Quando nossas pátrias se transformam em nada mais que nós mesmos, só nos resta seguir. Com a casa nas costas e sem medo, muitos imigrantes resistem a tudo que tenta apagá-los. Assim se apresenta a sinopse de “O Morro do Bode”, espetáculo teatral que será apresentado nos dias 26 e 27 de novembro, sempre às 19h, no espaço cultural Buia Teatro Company, localizado na Rua Dona Libânia, nº 300 – Centro, com entrada gratuita.

O Grupo Jurubebas inicia sua temporada de comemoração de cinco anos da Cia. em Manaus. O espetáculo busca trazer histórias reais para o palco. Para isso, foram entrevistados cinco imigrantes refugiados durante o processo criativo e, a partir desses depoimentos, a peça foi ganhando desenhos, cores e formas. “A peça é uma resposta, um posicionamento à crise internacional de imigração e que tem a ver com a nossa cidade. Quantos refugiados latinos nós permitimos falar? O ‘Morro do Bode’ abre uma fresta de luz para iluminar caminhos possíveis”, afirma Felipe Jatobá, produtor e diretor de arte da peça.

Taciano Soares, diretor do espetáculo, compartilha a experiência de trabalhar diretamente com imigrantes do Haiti e Venezuela. “Sinto que existe uma força na própria existência delas que é muito maior a todos nós. Lidar com pessoas que são, na verdade, sobreviventes, é sempre uma experiência absolutamente rica e inesquecível”, diz ele. A parceria do diretor com o grupo é antiga, mas somente agora a obra, contemplada pelo Prêmio Feliciano Lana – Lei Aldir Blanc – da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, pôde ser realizada.

O texto é um dramaturgismo assinado por Taciano, num processo criado e modificado na sala de ensaio. A partir dos depoimentos, também foi delineada uma narrativa em que os atores Nícolas Queiroz, Raiana Prestes e Felipe Jatobá encenam. A iluminação cênica é feita por Daniel Braz, produtor e pesquisador na área. Ele utiliza a luz como composição de ambientação do espetáculo como uma cenografia. “Os figurinos da peça não trazem uma contextualização geográfica, pois se trata de uma obra que dialoga com o espectador em qualquer lugar do mundo”, afirma Felipe.

Nohemi Morillo e Gloriane, refugiadas da Venezuela e Haiti respectivamente, fazem uma participação especial durante o espetáculo. “O uso do material de refugiados como argumento é um trampolim para falar de vidas que nos passam invisíveis todos os dias”, pontua Taciano. O projeto também contempla a realização do mini-documentário “Territorialidade e Estados de Presença”, que estará disponível no canal do Grupo Jurubebas no Youtube, no dia 10 de dezembro.

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