Carreatas pró-impeachment do presidente Jair Bolsonaro foram registradas nas maiores cidades brasileiras neste sábado, 23. Organizadas por entidades e partidos da oposição, as manifestações cobraram o chefe do Executivo por sua atuação na pandemia. Os pedidos de vacina e de afastamento foram a tônica dos atos, marcados por crítica aos atrasos na imunização da população contra a covid-19.

Em Brasília, de acordo com a assessoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), cerca de 500 veículos participaram do protesto. O Batalhão de Trânsito da PM fez o acompanhamento do ato e nenhuma ocorrência havia sido registrada até a publicação deste texto. No Rio, a manifestação reuniu cerca de 100 carros, causou lentidão no trânsito, mas sem ocorrências, de acordo com a Polícia Militar, ocupando uma faixa de uma das principais avenidas da cidade, a avenida Presidente Vargas.

Em Fortaleza, a concentração começou após as 16h e partiu da Praia de Iracema em direção ao Mercado dos Peixes. Membros de sindicatos, movimentos sociais e partidos políticos de esquerda fizeram um percurso entre carros, bicicletas e manifestantes a pé.

Na capital mineira, duas carreatas pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro foram realizadas neste sábado, 23. Uma pela manhã, organizada por partidos como o PT e PC do B, com o apoio de sindicatos, e outra à tarde, chamada pelo Movimento Acredito, que reúne lideranças e parlamentares do PDT e PSB. No interior do estado, foram registradas carreatas em Uberlândia, Varginha e Montes Claros. Havia ainda previsão de manifestações em Alfenas, Contagem, Ipatinga, Januária, Juiz de Fora, Muriaé, Ouro Preto, Pedro Leopoldo, Poços de Caldas e Uberaba.

Em Curitiba, centenas de carros, além de dezenas de ciclistas que foram à frente da manifestação. A concentração ocorreu na Praça Nossa Senhira Salete,  na frente do Palácio Iguaçu e percorreu as principais ruas da capital em um percurso de 12 quilômetros.

Centenas de veículos circularam pelas principais vias da região central e de bairros de classe média e alta da cidade em Porto Alegre. Por onde passava, a carreata recebia apoio de porto-alegrenses favoráveis ao impeachment, que acompanhavam o ato em suas residências. A concentração ocorreu às 16h no Largo Zumbi dos Palmares, no bairro Cidade Baixa, reduto progressista da capital gaúcha.

Em João Pessoa, a carreata pró-impeachment reuniu centenas de carros com buzinaço na principal avenida da capital, a Epitácio Pessoa. Além de partidos de esquerda, haviam faixas do Movimento dos Policiais Antifascistas, CUT, Sindicato dos Correios, Levante Popular da Juventude e ADUFPB. A organização do evento disse que o ato é suprapartidário e aberto a todos os movimentos que compartilhem do apoio ao impeachment, independentemente da orientação ideológica.

Ao longo do dia, dezenas de cidades paulistas também receberam protestos dentro e fora de carros. Nas redes sociais, políticos da oposição divulgaram o evento.

Na avaliação da porta-voz do partido Rede Sustentabilidade no DF, Ádila Lopes, a mobilização deste sábado foi um “esquenta” para o ato previsto para o dia 31 de janeiro – na véspera das eleições para a presidência da Câmara e do Senado.

Para Lopes, o apoio de movimentos de direita ao impeachment de Bolsonaro mostra uma oportunidade de convergência em prol da democracia. “Quando você chega a situações delicadas como a que a gente tem, essas movimentações tendem a ir caminhando para um funil, de modo que em algum momento se encontrem”, disse.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que também marcou presença na carreata, convocou a população a manter as cobranças pela saída do presidente da República em manifestações, panelaços e pressão nas redes sociais. “Para aqueles que dizem que colocar o impeachment agora é gerar instabilidade no Brasil, nós temos que responder que a instabilidade já está acontecendo e a crise está grave. E a instabilidade tem nome: Jair Bolsonaro”, declarou.

“Ao lado da luta da vacina para todos, pelo fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), ao lado da luta pela renda emergencial para que nosso povo não passe fome, a principal luta política é tirar Bolsonaro. Por isso é muito importante as manifestações que estamos fazendo”, acrescentou.

Para este fim de semana, movimentos de esquerda, de direita e representantes da sociedade civil convocaram atos em favor do impeachment em ao menos sete capitais e no Distrito Federal. Conforme o Estadão mostrou, atores políticos que estiveram em lados opostos durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff agora pedem juntos a saída de Bolsonaro. É o caso da Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, que apoiaram a petista em 2016, e o MBL e o Vem Pra Rua, que defenderam a queda da petista.

Entretanto, os protestos organizados por cada grupo estão sendo marcados para dias separados. O Acredito, movimento de renovação política, e os grupos de esquerda organizaram seus protestos neste sábado, enquanto os grupos de direita marcaram seus atos para domingo, 24.

Popularidade

Influenciada pela situação da pandemia da covid-19 no País, marcada pela crise no fornecimento de oxigênio na rede de saúde de Manaus (AM), a popularidade do presidente já se mostra abalada. Pesquisa Datafolha divulgada ontem indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado com 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.

O número de participantes que avaliam o governo como ótimo ou bom teve leve queda também passando para 31% ante 37% em dezembro. A taxa de avaliação regular ficou em 26%, comparada com 29% anteriormente.

No entanto, mesmo com o desgaste da imagem do governo Bolsonaro, a taxa de brasileiros contrários ao impeachment cresceu, indo de 50% em dezembro para 53% agora. Os que defendem a abertura de um processo contra o presidente por crime de responsabilidade são 42%, enquanto no mês passado, eram 46%. Outros 4% não responderam.

Na Câmara dos Deputados, há 56 pedidos de impeachment protocolados contra Bolsonaro. Nos bastidores, foram reforçadas as conversas sobre instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações e omissões do governo durante a crise sanitária do novo coronavírus – possibilidade já levantada inclusive pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Nas mídias sociais, levantamento feito na última semana pelo banco Modalmais e a consultoria AP Exata mostrou que a popularidade do presidente enfrenta desgaste no ambiente digital. Levantamento feito com base em perfis públicos nas redes sociais mostrou que 37,2% das menções ao presidente foram classificadas como ruins ou péssimas. O percentual de menções avaliadas como positivas (boas ou ótimas) foi de 34,8%.

Sobre pedidos de impeachment, as principais hashtags encontradas em posts que mencionaram o presidente ao longo da semana citaram o processo, houve proporção de 58% a favor e 42% contra. Os destaques foram #ForaBolsonaro e #QueremosBolsonaroAte2026.

Enquanto manifestações pela saída do presidente ocorriam nesta manhã em capitais pelo País, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 de Bolsonaro, afirmou em suas redes sociais: “O intuito de todos que saquearam o Brasil é óbvio: criar narrativas diárias usando os garganta$ profunda$, institutos, vibradores e afins, para enfraquecer o Presidente diante da opinião pública e assim investir com o Impeachment do único que vai contra seus intere$$e$!”.Colaboraram Janaína Araújo, Lorrane Mendonça, Leonardo Augusto, Julio Cesar Lima e Lucas Rivas. (Estadão)

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