Em menos de um mês do diagnóstico positivo no dia 26 de abril e cumprimento do isolamento de 10 dias, o diretor clínico do Hospital Dr. Jofre Matos Cohen, Daniel Tanaka, voltou a ter manifestação da Covid-19, na semana passada. Desta vez, o anestesista, com 30% de lesões no pulmão, conforme tomografia realizada no último sábado (30), deixou a linha de frente do combate ao novo coronavírus, em Parintins, para fazer tratamento no Hospital do Coração, em São Paulo.

No momento em que teve alta no dia 06 de maio, Daniel Tanaka já não sentia mais dor torácica, estava com o pulmão 100% e retornou ao posto de trabalho no Hospital Jofre Cohen.

“Já supostamente imune ao vírus, após cumprido meu período de isolamento, voltei ao combate na linha de frente. Confiante, fui fazer meu exame a fim de obter a detecção do IgG, que mostraria que meu organisno estaria recuperado. Minha decepção ao saber que ainda tinha apenas o IgM positivo”, explica.

O médico confessou que não podia aguardar a positivação desse anticorpo em casa, porque já se sentia bem. “Era hora de enfrentar todos os desafios, pois o hospital estava lotando e mais e mais pacientes internavam com gravidade importante. Muitas melhorias no serviço, aparelhos de laboratório novos, capsulas de Hood, gasometria, BIPAPs,  alinhamento fantástico com a equipe médica, fisioterapia, enfermagem, nutrição, psicologia, administração”, declarou. 

Daniel Tanaka voltou a encarar a batalha ferrenha para restaurar a saúde de doentes com 30, 50, 70, até 90% do pulmão comprometido. “Não tinha tempo para almoçar, dormir tranquilo já era exceção, muitas intubações, passagens de cateteres, pronação de paciente obeso… tudo com muito amor e dedicação”, descreveu. No dia 23 de maio, o médico começou a se sentir muito fadigado e não conseguia sair da cama. Mas obviamente não tinha escolha. Fui trabalhar”, revelou. 

À noite, febre e calafrios e coriza foram sinais de que o inimigo ainda não havia sido completamente vencido. No plantão de 24 de maio, Daniel Tanaka disse que enfrentou o dia mais difícil durante todo o enfrentamento, com uma série de problemas críticos a serem resolvidos. “E um paciente de quase 200kg para cuidar, estabilizar, e conseguir dar condições de voar até Manaus de salvo aéreo. Foi um sucesso. O paciente de 36 anos, que chegou saturando 46%, após Intubação, foi a 67%”, lembrou. 

O médico disse que após a pronação, procedimento em que se coloca a pessoa intubada de barriga para baixo, a saturação do paciente subiu. Na hora do resgate aéreo, o paciente alcançou 96% de saturação. “Sair acabado do hospital, mas feliz. Mais uma noite com febre. E no outro dia, muita dor no peito. Nesse momento, um filme passou pela minha cabeça. 

Eu, que havia me isolado da minha familia por 52 dias para protegê-la, poderia estar novamente com Covid-19? E ainda fatalmente as teria contaminado”, indagou a si mesmo.

Novos exames mostraram que o anticorpo, IgG, teimou em não se mostrar positivo e revelaram o IgM mais forte do que nunca. Hemograma apresentou leucócitos e plaquetas baixas em Daniel Tanaka. “Seria uma outra infecção viral? Segunda à noite (25) mais um paciente grave para intubar. Só eu sei como estava lá, era mais alma do que físico para suportar”, afirmou. No dia 26 de maio, tomografia mostrou lesões agudas compatíveis com Covid-19, em média 15%, no médico. 

“Nesse momento não fui forte. Entrei no carro e desabei. Chorei feito criança, de medo de ficar grave, de raiva por ter tido tanto cuidado com minha familia e expô-la ao vírus. Revolta por ter que me afastar novamente da direção do hospital, e, principalmente, de ter que sair da linha de frente. De médico à paciente pela segunda vez”, desabafou. Em conversa com alguns colegas de São Paulo, Daniel Tanaka recebeu aconselhamento para ir à cidade natal fazer uma investigação mais minuciosa, por não ser comum uma reativação da doença como essa.

O anestesista apontou como fator de complicação, o excesso da exposição à altas cargas virais durante procedimentos com pacientes com Covid-19 grave. “Refleti. Pensei que, se a minha esposa também adoecesse, nao teríamos na cidade quem cuidasse de nossa filha. Decidimos e demos um jeito de vir para São Paulo. Me dirigi ao Hospital do Coração, onde fui atendido pela equipe da Dra. Leda Lotaif, médica conhecida de nossa família”, pontuou. 

Daniel Tanaka realizou uma série de exames e, em nova tomografia, o acometimento das lesões no pulmão tinha avançado para cerca de 30%. “A equipe da infectologia optou, então, por me internar, para invesrigar a fundo o que estar acontecendo e, principalmente, para tentar brecar essa avanço rápido da doença em meus pulmões. Ainda sinto muito desconforto no tórax. Hoje, ainda tenho alguns exames e muitas medicações para tomar”, relatou.

O médico agradeceu as manifestações de carinho e apoio. “Saibam que confio muito no trabalho da minha equipe de enfrentamento, em Parintins. Estamos, realmente, fazendo um trabalho de excelência. Estou aqui no H Cor, exatamente, com o mesmo tratamento que fazemos aos nossos pacientes. Ainda temos a grande vantagem de uma equipe de fisioterapia que faz as ventilações não invasivas nas cápsulas de Hood, de maneira fantástica”, ressaltou. 

Nenhum membro da fisioterapia se contaminou, devido à eficiência da cápsula de hood fabricada pela Gráfica João XIII, em Parintins.

“Deixo aqui meu relato, meu agradecimento ao prefeito Bi Garcia, incansável na luta e no apoio de sua equipe médica, Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), dos Hospitais Jofre Cohen e Padre Colombo. Em breve, retornarei à batalha. Agora, chegou a hora de me cuidar. Espero que meu próximo post seja sobre minha alta”, publicou.

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