Após vários anos de eventos meteorológicos extremos, como os enormes incêndios florestais no oeste dos Estados Unidos nesta semana, a mudança climática pela primeira vez se impôs como um dos principais temas das eleições presidenciais nos Estados Unidos, exceto para o eleitorado republicano.

Em um ano afetado pela pandemia, os protestos antirracistas, manifestações e a violência policial – temas delicados da atualidade – analistas sinalizam que os temas de transição ecológica e economia verde se converteram, de forma lenta mas sólida, na principal prioridade para os americanos, particularmente os da esquerda, no Partido Democrata.

“A mudança climática nunca havia sido antes um dos temas importantes para a base de um dos partidos políticos”, disse Anthony Leiserowitz, pesquisador da Universidade de Yale que realiza desde 2008 pesquisas de opinião sobre a mudança climática.

A crescente preocupação climática também envolve, em menor medida, a metade dos eleitores que se definem como independentes, explica Leiserowitz à AFP.

No lado republicano, o negacionismo climático dominante na última década se chocou contra mais uma evidência: temperaturas recorde de calor, frequência crescente de fortes furacões, incêndios impulsionados pelas ondas de calor, enormes inundações, que atingem tanto as regiões azuis (democratas) e as vermelhas (republicanas). Furacões terríveis em 2017 e 2018 traumatizaram todo o sudeste do país, incluindo Texas, Louisiana e Flórida.

O presidente republicano, Donald Trump, já não fala em “farsa” climática. Depois de visitar recentemente a Louisiana, devastada por um furacão, mudou em geral sua postura sobre o meio ambiente e a proteção da água e do ar “limpo”. Ele prorrogou uma moratória sobre as perfurações de petróleo no Atlântico próximas a costa de vários estados governados por republicanos, incluindo a Flórida, que eram contrários à exploração para proteger suas praias e o turismo. 

– Minoria ativa –

O professor de Ciências Políticas Jon Krosnick, da Universidade de Stanford, realiza desde 1999 pesquisas de opinião e mostra que os americano são, de fato, relativamente constantes desde o início do século sobre a realidade e a importância do aquecimento do planeta.

O que mudou é a proporção de americanos que votam por um candidato em função de seu programa sobre a mudança climática. Esta proporção, segundo seu último relatório publicado em agosto, é de 25%, algo inédito. Apenas o aborto agrupa mais pessoas, com 31% dos eleitores.

“Uma a cada quatro pessoas está muito, muito, muito envolvida com o tema, é extraordinário”, disse Krosnick à AFP.

Mas Joe Biden “não vai ganhar a eleição com esse grupo de eleitores porque é de apenas 25%”, diz ele. Para construir uma coalizão vencedora, Biden deve mirar os outros subgrupos de eleitores.

Donald Trump não tem interesse em falar sobre seu ceticismo, porque só motivaria mais os eleitores apaixonados pela proteção ambiental, analisa Jon Krosnick. O presidente, deverá focar em temas sobre a segurança e a economia. Com informações de AFP.

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