Em entrevista exclusiva ao Fato Amazônico, o funcionário público Sidney Araújo de Almeida, pai da Keyllene Nogueira de Almeida, vítima fatal do acidente de trânsito na estrada da Ponta Negra, abriu seu coração. O acidentee ocorreu no amanhecer do dia 12 de maio deste ano, quando a picape S-10, de cor marrom e placas OAK 2643, dirigida pelo assistente administrativo Renato Fabiano dos Santos Benigno, engavetou na traseira do Fiat Strada, de placas JXP 6657, matando José Henrique Monteiro Galvão, de 18 anos e Keyllene, e deixando ferido ainda Rodrigo de Oliveira Barroso, Weslem Tavares e Silva e Jhony Lemos Rodrigues.

“Estive frente a frente com Renato Benigno na delegacia, eu não pensei em nenhuma maldade contra ele. Não pensei em bater nele ou desejar o mal a ele. O meu coração apertou e só pensei em Deus e na imagem da minha filha. Como uma pessoa que tem Deus no coração não sinto ódio dele, mas o perdão pertence a Deus. Com relação a questão de perdão eu prefiro deixar nas mãos de Deus. Quem tem de perdoar é Jesus Cristo. Jesus, sabe o que estava se passando no coração dele e da minha filha, ele sabe aquele momento. Deixo para Deus fazer o julgamento dele”.

Por Elcimar Freitas

Fato Amazônico – O Senhor esteve frente a frente com Renato, o homem que tirou a vida da sua única filha, hoje passados cerca de mais de 54 dias, daria o perdão a ele?

Sidney – Acho que você deve saber como é uma pessoa sem vida. Quando olhei para a cara daquele rapaz, para o rosto e para o semblante dele na delegacia, não sei se era ainda o efeito do álcool, ele olhou pra mim e pareceu que ele não tinha vida. O olhar dele era de uma pessoa sem vida mesmo, vazio. Ele ficou estatalado, só olhando pra mim, eu do outro lado e ele ali parado me olhando e eu não senti vida naquele rapaz. Não sei se isso era porque a ficha começou a cair e ele passou ver o que cometeu. Em relação a perdão, uma coisa interessante, que já era de se esperar, a família não ligou não procurou contato nem para dizer eu sinto muito pelo que meu filho fez. As provas estão ai, ele não é suspeito desse crime, ele é culpado desse crime. Suspeito é quando se esta investigando. Esse não, ele foi flagranteado, ele estava no local, ele cometeu o crime, então ele é o culpado, todas as provas estão aí contra ele. Infelizmente, eu não quero olhar as fotos da minha filha, só escuto os comentários das pessoas, ai eu saio de perto, mas realmente sei que foi um coisa horrível que aconteceu com ela e com o rapaz de 18 anos, então a questão de perdão eu prefiro deixar nas mãos de Deus. Quem tem de perdoar é Jesus Cristo. Jesus, sabe o que estava se passando no coração dele e da minha filha, ele sabe aquele momento. Deixo para Deus fazer o julgamento dele. Eu não posso assim dizer que vou perdoar uma pessoa que fez uma atrocidade dessa, que poderia ter ocorrido com outra pessoa, tanto que não pergunto a Deus porque isso aconteceu comigo, porque ai seria egoísmo da minha parte. Se isso aconteceu comigo significa que eu suporto esse fardo eu não posso dizer porque não aconteceu com o João, o Raimundo ou o Zé, porque aí eu estava querendo o mal de outra pessoa, mas lhe digo que a dor é muito grande e eu não consigo falar muito porque da vontade de chorar, o meu coração começa a lagrimar. Sei que Deus está trabalhando o meu coração e se você me perguntasse se tenho ódio dele, eu digo que não porque tenho muita fé em Deus e tenho temor a meu Deus, mas esse perdão eu deixo para Jesus Cristo.

Fato Amazônico – Seria a vontade de Deus o acidente?

Sidney – Não. Eu não acredito que seja a vontade de Deus de ter acontecido aquilo. Deus deu a permissão. O mal existe, nós não podemos fugir do mal. Nós sabemos quando o mal vem é para roubar, matar e destruir. Ele (Renato), roubou a vida da minha filha, ele matou a minha filha e ele destruiu o pai, a mãe e a família. Eu me sinto hoje destruído e peço todos os dias muita ajuda e a proteção de Deus.

Fato Amazônico – O Renato Benigno é de uma família influente em Manaus, então essa luta pro senhor é de David contra Golias?

Sdiney – Deus está na frente. Nas minhas orações, sempre eu peço que Deus ilumine a cabeça do Promotor de Justiça, que Deus ilumine a mente do juiz ou juíza que está com o caso e que Deus também trabalhe nos jurados quando for para julgamento, que eles vejam a grandeza da maldade em que foi cometido esse crime e que Deus ilumine a cabeça a inteligência do advogado que está nos acompanhando porque ele vai atuar na acusação. Quando você tem amor a Deus e o teme, ele resolve tudo por você. Então não acredito que nosso Judiciário Amazonense, deixe se levar por isso. O dinheiro pode comprar algumas coisas, mas ele não pode comprar tudo, no caso eles (Benignos) não poderão comprar a vida da minha filha de volta então assim eu confio na nossa Justiça e tenho a certeza de que os juízes e promotores são pais de família e que eles imaginam a dor que tanto eu como a mãe sentimos ao perder nossa única filha e assim eu tenho a certeza de que a Justiça será cumprida.

Fato Amazônico – A família do Renato já procurou a sua família ao longo desses 54 dias?

Sidney – Não nos procuraram. Eu não vou dizer que é por conta do momento muito difícil e eles estão querendo livrar de todo o jeito o rapaz, na verdade amenizar a situaçao, porque não vão livrar, a culpa é do Renato, que é uma coisa assim irreversível, porque nas mãos de quem cair saberão com as imagens e as provas que tem nos autos da maneira como minha filha foi morta num acidente muito macabro. Esse rapaz quando cometeu o acidente, bateu diretamente na minha filha e no outro rapaz. O amassado que ta na picape foi o corpo da minha filha e do rapaz que morreu, assim foi o tamanho da batida. Então acredito que a família não me procurou porque sabe que foi uma coisa tão grave e pelo fato da grande repercussão.

Fato Amazônico – O Renato tinha 129 pontos na CNH dele. Como o senhor observa isso?

Sidney – A família sabia que ele cometeu tantos delitos na direção de um veículo pleo quantitativo de pontos que ele tinha na Carteira Nacional de Habilitação, mas nem por isso as nossas autoridades de trânsito verificaram isso. Eu dirijo há anos e não bebo no trânsito e nunca recebi uma multa, ou seja, como uma pessoa com 129 pontos na carteira é agraciado em continuar com a certeza da impunidade, isso só pode ser proteção. Mas são essas coisas que tem de acabar tanto aqui no Amazonas como no Brasil. Uma pessoa dessas não pode ficar impune. Se ele tem 129 pontos na carteira isso significa que ele já cometeu outros delitos, sendo que esse que ele cometeu agora, matando duas pessoas, é o máximo que um ser humano como ele pode ter cometido. E agora eu espero justiça, não de apenas cassar a carteira dele, que é pouco, mas de ser punido severamente, até a pena máxima, ainda é pouco, mas isso pelo menos vai me dar um pouco de conforto em saber que ele mesmo e outras pessoas vão pensar muitas vezes antes de cometer um ato desses e espero que ele (Renato) passe muito tempo sem pegar numa direção.

Fato Amazônico – O Renato tinha uns vídeos na internet onde aparecia dirigindo em alta velocidade, o senhor teve acesso ?

Sidney – Esses estão guardados não apenas por mim, mas por pessoas que tem o interesse de ver este caso avançar e que a justiça seja feita. São pessoas que tem nos apoiado e se colocado na minha pele e da mãe dela. Não adianta querer apagar uma coisa que foi veiculada na internet, que algumas das vezes ele (Renato) mesmo gravou. Pode tirar das páginas da internet, mas tudo está guardado por pessoas muito influentes na cidade de Manaus. São pessoas que não irão deixar o caso cair no esquecimento, temos de fazer campanha para que isso não ocorra mais. Eu sou pai nem consigo mais olhar para as fotos da minha filha, mas se for para uma campanha, não sendo imagem do acidente, mas ela cheia de vida, uma pessoa forte cheia de ideais e coisas boas, para que esse caso não passe impune eu vou. A campanha envolverá além da família, amigos e a igreja. Vamos usar ainda a internet.

Fato Amazônico – Fale um pouco de sua filha.

Sidney – Minha filha gostava de festa, de estar com os amigos, mas era uma pessoa muito humana e bondosa. Moça inteligente, não por ser minha filha, bonita, beleza material externa não é tudo, mas linda por dentro e por fora, pelo simples fato de ser bondosa e caridosa Era formada em gestão em saúde pública e estava querendo fazer estética. Minha filha tinha 27 anos, mas eu acompanhava em tudo, brigava e chamava a atenção, as vezes me aborrecia, mas isso é normal. Ela era pura, sem malicia. Dois dias depois da morte dela, minha neta fez 1 ano (Maria Eduarda). Nesse mundo eu não a verei mais a minha filha.

Fato Amazônico – O senhor teria uma mensagem para o Renato Benigno?

Sidney – Primeiro quero dizer que a minha fé em Deus faz com que eu não sinta ódio de ninguém. Ele cometeu essa atrocidade com a minha filha, mas eu quero dizer a ele que a partir de agora ele reflita muito na vida dele. Ele terá um tempo, as vezes sozinho, para pensar o que ele fazia e que ele fez. Ele será julgado e com a graça de Deus, será condenado e isso fará com que ele pense bem nisso. Pense que ele tirou a vida de dois jovens, da maneira que ele tirou pela irresponsabilidade e por uma falta de compromisso com a vida. Uma pessoa como ele não tinha compromisso e nem respeito com a vida. Que ele reflita e pense nesse período que ele está passando e vai passar e depois quando ele tiver solto, com mais tempo mais idade, hoje parece que ele tem 36 anos, então ele terá muito tempo para pensar na maldade que ele fez com dois jovens e fez com as famílias desses jovens e fez com o pai da Keyllene Nogueira de Almeida (em prantos), mas eu espero que ele reflita bem e caia na real. Que ele ponha Deus no coração e peça perdão pelo que fez, pois só Deus, poderá lhe dar o perdão e a salvação e que envolva Deus no seu coração ele ta precisando de Deus na sua vida e quem fala aqui isso pra ele não é um evangélico, mas um católico, onde fala o nome de Deus, e onde se fala a palavra de Deus eu estou lá. Eu amo muito a meu Deus e tenho muito temor de Deus, por isso peço que ele ponha Deus no coração e peça perdão.

Fato Amazônico – Se o senhor fosse da família do Renato, como o senhor agiria?

Sidney – Filho é filho. Eles vão tentar protegê-lo de todo o jeito, reduzir a culpa dele, mas ele fez uma coisa que foi a vista de todos, então é uma coisa que não se tem como reverter e não tem nem como amenizar uma situação dessa, porque ele foi autor, ele cometeu. Se eu fosse da família do Renato, vendo o que ele já tinha feito eu já teria buscado até mesmo através de uma conversa, sabemos que trabalhar com pessoas é muito difícil, eu trabalho com educação há mais de 30 anos, nessa conversa o orientar para que não misturasse a bebida com o trânsito. Porque quando ele mistura a bebida com o trânsito ele coloca uma arma em sua mão, a diferença que não é um revólver ou uma faca, é um carro, mas é uma arma, principalmente quando você está alcoolizado. Mas fosse uma questão depois do acidente, seria meu filho do mesmo jeito, eu iria chorar, ia pedir muito a Deus que o perdoasse, mas chegaria com ele e diria você fez então peça perdão a Deus, mas você irá se confortar em pagar pelo que você fez. Porque uma pessoa dessas se não pagar pelo fez não viverá tranquilo. Eu como pai ou mãe, iria me doer muito, mas deixaria nas mãos de Deus e que a justiça fosse feita. Eu diria a ele, eu sinto muito, mas você terá de pagar pelo que fez. Eu estou desse lado, não sei o que passa na cabeça da familia dele, que podem ser vítimas também. A mãe podem ter tido a intenção de fazer algo, mas não tenha conseguido, mas a família em si deu proteção para esse rapaz chegar até onde ele chegou. Eu não posso aqui julgar, os pais muitas das vezes não tem culpa das atitudes dos filhos.

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