Do lado francês dos Alpes, tudo está vazio. Na parte suíça, as estações de esqui esperam bater recordes de movimento. Estratégias diferentes de abordagem contra a covid-19 produziram divisões na Europa e uma das mais patentes ocorre nessa região turística. 

Esquiadores e snowboarders, atraídos pela maior nevasca do inverno, não paravam de chegar no final de semana passado à Suíça, em um fluxo contínuo para uma das doze estações que formam a região de esquis de um lado e do outro lado da fronteira, em Portes du Soleil. A fila para o teleférico se estendia até o fim da rua principal. “Nunca vi nada assim”, disse Yannick Bellon, diretor da escola local de esquis, que passava de carro ao lado da multidão.

Nos anos normais, uma única entrada permitia que os esquiadores passassem de um resort para o outro. Eles podiam começar sua descida na Suíça, se encontrar na França ao chegar no vale e depois tomar o teleférico e subir novamente. Hoje, isso não é mais possível.

Assustados com o massivo surto de coronavírus no ano passado, relacionado à estação de esqui austríaca de Ischgl, os franceses mantiveram as suas pistas fechadas até este momento da temporada – e estenderam a decisão na quarta-feira. Os suíços decidiram que podiam encarar o risco impondo inicialmente a obrigatoriedade da máscara e de distanciamento. 

Embora o governo francês tenha insistido para que os cidadãos evitassem as estações suíças, os esquiadores correram para as montanhas atraídos por condições ideais no final de semana passado, esquecendo a pandemia. No estacionamento de Morgins, no final de semana passado, de cada cinco carros um tinha a placa francesa.

O negócio das estações suíças fazem inveja às cidadezinhas francesas devastadas pelas restrições da covid-19. No entanto, as autoridades temem pelo pior, em um momento em que variantes contagiosas do vírus se espalham pelo mundo.

Os frequentadores das pistas suíças ignoraram o distanciamento nas enormes filas do teleférico de Verbier, no final de semana passado. Flumserberg, uma das estações mais próximas de Zurique, atingiu a sua capacidade máxima e teve barrar o desembarque de visitantes na estação ferroviária. Algumas estações tiveram de chamar os bombeiros para manter a ordem.

Em Morgins, funcionários da segurança com casacos laranja com a inscrição “Parem a covid” percorreram as filas lembrando às pessoas que mantivessem a distância e puxassem as máscaras para acima do nariz. 

Em novembro, França, Alemanha e Itália – as três nações mais populosas do bloco europeu – pressionaram a União Europeia (UE) para que o fechamento das estações de esquis fosse ampliado. O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, alertou que a situação poderia se tornar “incontrolável”. 

Os que se opõem à reabertura destacam o desastre de Ischgl, que no ano passado contribuiu para o rápido contágio do vírus na Europa. A estação foi relacionada a 6 mil casos de infecção em 45 nações nos primeiros estágios da pandemia.

Alguns países, porém, ignoraram os perigos. Os esquiadores voltaram para as montanhas dos Alpes, embora as restrições nas fronteiras limitassem o número de turistas que podiam entrar no país.

A Espanha também manteve abertas as estações de esquis e recuou em grande parte do fechamento imposto na primavera passada (no hemisfério norte).

A Suíça não faz parte da UE e as autoridades que coordenam a resposta à pandemia no país relutaram em ceder à pressão dos maiores membros do bloco. As decisões foram em grande parte deixadas ao critério das autoridades locais, que estavam inclinadas a manter funcionando seus negócios locais.

“Fechar não é uma opção”, segundo Christophe Darbellay, presidente do governo regional de Valais, onde Morgins se localiza. 

A Suíça, que registra 58 casos por milhão de habitantes, mais que França (46 por milhão) e Itália (40 por milhão), intensifiou na semana passada as restrições de locomoção e fechou estabelecimentos comerciais não essenciais, mas as medidas não alcançaram as pistas de esqui.

Em Châtel, uma estação do lado francês da fronteira a apenas 5 minutos de carro de Morgins, donos de comércio esperavam a visita de pelo menos alguns dos esquiadores do lado suíço. “Continuamos abrindo todos os dias na tentativa de sobreviver”, contou. “Não tenho um plano b”, disse Jackson Sichel, de 34 anos, dono de um bar. (Estadão)

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