A paranoia antitabagista que assola o mundo teve origem, é claro, no Império do Norte. No Brasil, seu ponto culminante ocorreu na era Serra, ocasião em que o Ministério da Saúde impôs a inserção, nas embalagens de todos os produtos do ramo, de imagens terroristas, ao fito de advertir quanto aos males que supostamente o uso do tabaco pode causar no ser humano.

Já ocorreram situações inusitadas por conta dessa histeria. O sujeito entrou no botequim e pediu um maço de Derby. Recebeu, olhou atrás e devolveu, alegando: “Este aqui causa impotência. Quero aquele que dá câncer”. O vendedor tentou explicar que era tudo a mesma coisa, que se tratava apenas de ilustração. Réplica: “Conversa fiada, meu amigo. Se eu pegar um câncer, ainda tenho a esperança de ser curado pelo doutor Raymundo Valois, lá no CECON. Mas se o “precioso” aqui falecer, como ele não se chama Lázaro nem a Nicole Kidman vai conseguir ressuscitá-lo. Ficar brocha, nem pensar, tô fora. Passa logo o do câncer e estamos conversados”.

Dizem que essa campanha tem raízes em interesses de ordem pública, principalmente no que concerne à saúde. Mas, como conceito é muito amplo, acho que o governo poderia estendê-la a outros ramos. Por exemplo, num disco de dupla sertaneja deveria vir impresso em letras garrafais: “O Ministério da Cultura adverte: ouvir este disco pode aumentar seu grau de estupidez, tornando-a irreversível e incurável”.

Num outro, de axé, deveríamos ler o seguinte: “Este produto é altamente tóxico e não possui níveis de tolerância. O Ministério da Agricultura recomenda: troque-o por um quilo de capim em qualquer posto da EMBRAPA. Os ruminantes, bípedes ou quadrúpedes, estarão bem alimentados, sem contribuir para a poluição sonora”. A imagem poderia ser a de um burrico devorando uma touceira do nutritivo alimento, em cima de um trio elétrico.

Pretendendo viajar a Boa Vista, o motorista encontraria logo no início da BR-174 um grande painel com a inscrição: “O Ministério dos Transportes adverte: trafegar por esta rodovia é fatal para o seu veículo e pode levar você mais cedo a seu destino na eternidade”. Como ilustração, ver-se-ia um Porsche se transformando num Dauphine 65 e o piloto sendo ejetado diretamente para o interior do carro fúnebre.

No frontispício de todos os fóruns do Brasil, haveria um cartaz: “O Ministério da Justiça lembra: se você não gosta de algum juiz ou promotor, utilize os serviços do CNJ ou do CNMP. São gratuitos e uma forma quase cem por cento garantida de atrapalhar ou estragar definitivamente uma carreira”. A ilustração seria a de um dedo bem comprido e bem duro, com aparência de aço, apontando para uma beca preta.

Como se vê o campo é vasto e todos temos o dever de contribuir com os desideratos institucionais e elevadamente cívicos do nosso governo. Toda sugestão é válida e será considerada serviço público relevante. Temos que dar concretude à afirmação: “Brasil, um país de todos”.

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