Em tempos atuais, um prefeito de uma grande capital do Brasil, convocou os seus assessores para uma reunião extraordinária. – Eu preciso saber quais são as reais necessidades do meu povo – disse o prefeito.
Depois de alguns intermináveis minutos de silêncio, um deserto total de ideias, um assessor timidamente levantou a mão e disse: – Senhor prefeito, porque o senhor não vai pessoalmente nos bairros periféricos da cidade. É lá que residem os seus verdadeiros eleitores.
Olhando de forma horizontal, o prefeito se aproximou do assessor, e lhe disse: – Boa ideia, mas me diga como eu vou fazer isso? Outro assessor, com o tom de puxa-saquismo, lhe disse: – O senhor é o melhor prefeito que essa cidade já teve. O terceiro assessor não querendo ficar para trás, também disse: – Viva o nosso futuro presidente. O quarto assessor, emendou: – E será o melhor presidente da história desse país!
O prefeito aceitou aqueles elogios, mas voltou a falar: – Vamos, eu quero ideias concretas. Sugestões que eu possa colocá-las em prática. Um quinto assessor pediu a palavra e começou a falar: – Ontem à noite quando eu fui deitar liguei a TV e estava passando um programa onde os chefes trocavam de lugar com os seus funcionários, de modo que ninguém sabia quem era quem. Acontecia assim…
O prefeito ouvindo aquele relato, teve um insight: – Boa, Mário! Você me deu uma ideia genial. Depois de alguns minutos, o prefeito voltou a falar: – Pronto, está decidido. Amanhã eu vou atender a população na recepção da prefeitura. – Você – pediu para o sexto assessor – convoque o recepcionista para essa reunião. Eu preciso falar com ele urgente, combinar o disfarce – ordenou o prefeito.
Na manhã seguinte, lá estava o prefeito disfarçado de recepcionista e o recepcionista disfarçado de prefeito. E ele atendeu a todos da forma como o verdadeiro recepcionista atendia, sempre com um sorriso no rosto. Quando pararam para o almoço, o oitavo assessor perguntou ao prefeito: – E aí patrão, como está o trabalho? – O pior é imitar o sorriso do José. Ô coisa ruim! E todos os assessores riram as gargalhadas.
Faltando uns dez minutos para o encerramento do expediente, entrou na recepção da prefeitura um senhorzinho de idade avançada, apoiado em sua bengala. O prefeito disfarçado de recepcionista disse: – Olá, meu senhor, em que posso lhe ajudar? – Eu preciso falar com o prefeito – disse o velhinho. – Hoje não é mais possível, estamos encerrando o expediente – disse apontando para um grande relógio que estava pendurado na parede. – É que no meu bairro não tem água há mais de três meses. – Tudo bem, vou anotar aqui e passar para o prefeito, ele vai mandar verificar essa situação para o senhor. – Muito obrigado. – De nada. – Aguardo soluções – disse o velhinho.
Assim que aquele senhor saiu da prefeitura, o prefeito disfarçado de recepcionista convocou todos os seus assessores para uma reunião extraordinária. – Vamos, eu preciso que vocês descubram por que na casa desse contribuinte não tem água. – Mais prefeito, já é tarde. – Não quero saber, eu pago um salário astronômico para vocês é para isso. – Vão. E não me voltem aqui sem uma resposta convincente.
Os assessores saíram em disparada, cada um por um lado da cidade. Trinta minutos depois retornaram. O nono assessor do prefeito disse: – Senhor prefeito, descobrimos por que não tem água na casa daquele seu eleitor. – Que bom. Digam-me. – A casa dele é a última do moro – disse o décimo assessor. – Ela fica lá em cima mesmo – completou o décimo primeiro assessor.
O prefeito já meio irritado com as explicações de seus assessores, indagou-os irritado: – Vamos, me digam a verdade. Eu quero saber por que não tem água na casa daquele homem? – Prefeito, é simples, não tem água na casa daquele seu eleitor devido a lei da gravidade. O prefeito com a cara de quem não estava entendendo nada, disse-lhes: – Então, vamos convocar os vereadores e vamos derrubar essa lei.
O décimo segundo assessor disse-lhe: – O pessoal da oposição já está pensando em convidar Isaac Newton para ser o seu adversário nas próximas eleições. – Que venha. Não tenho medo da oposição. – Prefeito, nunca subestime o seu adversário – disse o mais gordo dos assessores. – Não tem físico nenhum no mundo que me impeça de derrubar essa lei. O décimo quarto assessor disse: – Viva o melhor prefeito do Brasil, quiçá, do mundo.
Luís Lemos
É filósofo, professor universitário e escritor, autor do livro: Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas. Para comprar o livro basta acessar o link https://www.amazon.com.br/Jesus-Ajuricaba-Terra-Das-Amazonas/dp/168759421X ou na Livraria Nacional, no Centro de Manaus.
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