O que significa ser honesto? Vale a pena ser honesto? Como ser honesto? Qual o valor da honestidade? Cogitando sobre essas questões, lembrei-me da fábula do lobo que estava ficando cansado de caçar e correr o dia todo para conseguir comida. Além disso, nos últimos tempos, acontecia-lhe sempre de ficar de tocaia de manhã até à noite, sem resultado.

– As ovelhas ficaram espertas – resmungava – e, assim que me avistam, refugiam-se junto ao pastor ou ao cão-de-guarda. Tenho de inventar algo ou acabarei ficando pele e osso e logo morrerei de fome. Após pensar, finalmente teve uma ideia. – Para se aproximar do rebanho sem alarme, vou me disfarçar de pastor.

Vestiu um casaco remendado e um chapelão que caía até os olhos, transformou um ramo de eucalipto em bastão e, para dar um toque ao disfarce, conseguiu também uma velha gaita. De fato, todos os pastores do vilarejo tocavam algum instrumento para enganar o tempo: flauta, violão ou gaita.

Terminada a transformação, disse: – Camuflado desse jeito, as ovelhas não conseguirão me reconhecer. Hoje vou jantar como um rei. E foi andando para o pasto mais próximo.

Era uma tarde de verão, fazia muito calor, e o pastor dormia profundamente à sombra de uma arvore; ao seu lado, o cachorro cochilava. As ovelhas deliciavam-se com a grama, tranquilas. O lobo se aproximou com cuidado: as ovelhas não pareciam assustadas, portanto, o disfarce estava funcionando! Agora lhe restava somente guiar aqueles bichos tolos até a sua toca; mas, como fazer para que eles andassem?

O lobo agitou o bastão, distribuiu alguns golpes nos dorsos lanosos, e as ovelhas não se mexeram. Estava desanimado quando se lembrou de que os pastores guiam o rebanho com ordens dadas em voz alta. – Vamos! Em frente, ovelhinhas, andando… mexam-se preguiçosas! – gritou alegremente. E de repente explodiu a maior confusão.

O lobo não tinha pensado em disfarçar a voz como tinha camuflado o seu aspecto, e o seu vozeirão rouco e inconfundível tinha acordado de sobressalto todos os que dormiam. As ovelhas começaram a balir aterrorizadas; o pastor levantou-se de um pulo, com o bastão em mão; o cachorro se arremessou na frente, com a boca escancarada.

A única coisa que restou ao lobo foi fugir, praguejando contra aquela distração que tinha acabado com seus planos. Porém o casaco prendia seus movimentos, o chapelão caindo até os seus olhos não lhe permitia ver onde colocava as patas… O pastor e o cachorro não fizeram grande esforço para alcançar o mal-aventurado e lhe deram uma tal lição que ele nunca mais voltou.

Essa fabula nos ensina, entre outras coisas, que ninguém triunfa para sempre quando se é desonesto. O desonesto tem sempre seu ponto fraco, e a verdade uma hora vem à tona, mesmo se só no finalzinho, mas ela vem! Aprende-se, também, nessa fábula, que somente quem é honesto consigo mesmo consegue ser honesto com os outros.

Por fim, vale a pena refletir sobre às sábias palavras de Jesus Cristo sobre o valor da honestidade. Disse Ele: “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” (Lc 16, 10-12).

Luís Lemos

Filósofo, professor universitário e palestrante. Autor dos livros: O primeiro olhar – A filosofia em contos amazônicos (2011), O homem religioso – A jornada do ser humano em busca de Deus (2016); Jesus e Ajuricaba na Terra das Amazonas: Histórias do Universo Amazônico (2019). E-mail: [email protected] | Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC94twozt0uRyw9o63PUpJHg

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