Um jovem de 18 anos foi morto pelo melhor amigo ao cobrar uma dívida de R$ 1 mil, em Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá (MT). No dia 18 de outubro, Pedro Victor de Almeida Peroso ligou para Vanderson Daniel Martins com o objetivo de cobrar o dinheiro por um aparelho de som automotivo vendido. As informações são de O Livre.

Os dois saíram para beber naquela noite e Vanderson chamou o amigo para ir até a casa de um parente, onde o dinheiro estaria. No entanto, tudo não passou de uma emboscada. Na mesma noite, Pedro foi morto dentro do carro e o corpo encontrado com diversas perfurações de faca.

Na denúncia do Ministério Público Estadual, consta que ele foi pego de surpresa, enquanto ainda estava com o cinto de segurança. Ele chegou a sair do carro e a pedir ajuda, mas Pedro caiu em frente a uma casa sem muros. Não resistiu aos ferimentos e morreu.

Seu carro foi encontrado ensanguentado e com o para-brisas quebrado por uma pedra. Pela cena, parecia uma tentativa de um latrocínio.

Todos os amigos que estiveram com Pedro nas horas antes do crime foram ouvidos, inclusive o apontado pelo Ministério Público como sendo o assassino. Foi somente após uma denúncia anônima e da análise de imagens de câmera de segurança que a polícia suspeitou de Vanderson.

As gravações mostraram que ele estava com Pedro quando, em depoimento, disse que estava com a namorada. Afinal, quem suspeitaria de um dos melhores amigos da vítima?

Amizade de longa data

Pedro foi encontrado morto dentro de seu carro em outubro do ano passado (Foto: Reprodução)

Pedro era um bom aluno, educado, gostava de ler e escrever. Desde pequeno foi o companheiro da mãe e todos os dias ia à casa da avó.

Filho único, passou a maior parte da vida grudado à mãe. Pedagoga concursada, ela lecionava nas mesmas escolas em que ele estudava. Uma rotina que só mudou quando Pedro cresceu e foi matriculado em escola particulares. Logo após, veio a faculdade de Direito.

Em meados de 2012, Pedro conheceu Vanderson. Mas foi só em 2016 que eles se aproximaram mais e passaram a estar sempre juntos. Segundo Nádia, Pedro gostava muito do amigo. “Era como irmão dele. O Pedro era um pouco carente, por ser filho único, e se apegou muito”.

Vanderson estava sempre na casa da família. Ele tinha um lava-jato e, o pai de Pedro, um caminhão-pipa. Assim, sempre que sobrava água o filho pedia que o pai levasse para  ajudar o amigo. Tudo sem cobrar nada.

O rapaz acabou “adotado” de tal forma pela família que seu aniversário, em agosto de 2018, foi feito no barracão do pai de Pedro.

No dia 15 de outubro, Vanderson almoçou na casa da família de Pedro. Uma comemoração ao Dia do Professor, profissão de Nádia. Também nos dias 16 e 18, horas antes de, conforme o Ministério Público, cometer o assassinato.

O dia da morte

Pedro trabalhava como motorista de aplicativo, por isso precisava do porta-malas do carro livre. Às vezes, era necessário carregar a bagagem de clientes. Decidiu vender o som do carro e Vanderson se propôs a comprar. Mas ficou devendo R$ 1 mil.

No dia 18 de outubro, Pedro começou a cobrar o amigo. Para o Ministério Público, o motivo seria uma dívida que ele próprio teria com outra pessoa, que também estaria lhe cobrando.

Na madrugada do dia 19 de outubro, depois do passeio no shopping, Pedro ligou para Vanderson e, mais uma vez, lembrou-o de que precisava receber. Vanderson saiu de casa, deixando a namorada e o filho, e foi ao encontro de Pedro.

As imagens das câmaras de segurança da distribuidora onde Pedro comprou bebida para os dois é que, segundo o MP, comprovam que eles estiveram juntos.

Em seguida, os dois entraram no Ford Ka branco que Pedro dirigia. Foi quando Vanderson disse que o dinheiro estava na casa de um parente, no Bairro Jardim Maringá I. Como os dois eram “amigos de longa data” – um termo bastante citado no processo -, Pedro confiou.

“O Pedro confiava nele. A gente confia nos amigos”, disse a mãe da vítima.

De acordo com o promotor de Justiça Milton Mattos da Silveira Neto, Vanderson ligou para uma terceira pessoa – que ele nunca revelou quem é – e avisou sobre o local para onde levaria Pedro. Ao chegar na Rua Dom Camilo Faresini, Vanderson, do banco de passageiro, tirou a chave do carro do contato, sacou uma faca e matou o amigo, segundo consta na denúncia.

Moradores do local relataram terem ouvido os gritos, mas disseram, em depoimentos, ter sentido medo de sair para ver o que estava acontecendo. Vanderson, então, teria tentado simular um latrocínio. Para fazer parecer que Pedro estava trabalhando no momento do crime e teria sido parado à força, jogou uma pedra no para-brisas do carro.

Depois disso, fugiu na garupa de uma motocicleta, com aquela terceira pessoa para quem havia ligado.

A cena do crime

A Polícia Militar foi acionada pelos moradores que ouviram Pedro pedir por socorro. Segundo a delegada Jannira Laranjeira, Pedro jogou seu celular na primeira casa após o local em que o carro dele foi encontrado.

A Polícia Civil acredita que ele tentou proteger o aparelho, onde pode haver provas sobre o crime. Por se tratar de um Iphone, ele ainda não foi desbloqueado.

Depois, o rapaz ainda conseguiu seguir até a primeira casa sem muros da rua, onde caiu, não resistiu aos ferimentos e morreu. A perícia apontou que Pedro sofreu ao menos 10 perfurações de faca na cabeça, no tórax, no abdômen, no ombro e nas mãos – lesões que demonstram a tentativa de defesa da vítima.

Foram encontradas marcas de sangue na parte interna da porta do motorista e no volante do carro, além de uma poça de sangue no chão.

A perícia apontou ainda que, além de Vanderson, havia mais alguém no carro. Foi encontrado sangue nas portas da frente e de trás do lado direito. Também gotejamento de sangue do carro até o ponto onde o corpo de Pedro foi encontrado.

Depois de fugir do local do crime, Vanderson ligou para a namorada e contou sobre o crime. Alegou legítima defesa, afirmando que o amigo teria tentado matá-lo primeiro. Ele foi para casa, ainda com as roupas sujas e com a faca nas mãos. A namorada o orientou, segundo a polícia, a se esconder na casa da irmã.

Eles se desfizeram das roupas e da arma do crime e Vanderson deu início à tentativa de não levantar suspeitas contra si.

Início da investigação

A delegada Jannira Laranjeira, à época lotada da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), ficou à frente das investigações desde o dia do crime. Sua primeira ação, após ver o local, foi verificar quem esteve com Pedro no dia anterior.

Todos os amigos que estiveram com Pedro foram ouvidos, inclusive Vanderson. Ele contou que só esteve com Pedro no almoço e na tarde do dia 18. À noite, alegou ter ficado em casa.

Não ficou sob suspeita de imediato, mas uma coisa chamou atenção: ele foi a única testemunha ouvida que estava sem o celular.

“Todos os outros foram prestar declarações, depoimentos, com o aparelho celular e ele não. Então, isso já causou uma certa estranheza, porque a gente pede acesso. ‘Você mostra? Você concede a ligação?’ Ele falou que deixou o celular em casa, que tinha esquecido”, disse a delegada.

O segundo passo foi, com a ajuda da família, descobrir os locais por onde Pedro havia passado. O cartão de crédito ajudou na identificação.

Uma imagem que trouxe a verdade

Os investigadores da DHPP, então, foram até os locais e tiveram acesso às câmeras de segurança.

“A gente detectou que aquela testemunha – porque ele [Vanderson] era tratado como testemunha – tinha mentido. Ele falou que não teve contato com a vítima no período noturno”, relatou a delegada.

Pouco antes, a Polícia Civil recebeu uma denúncia anônima via 197. A pessoa relatava que uma menina de nome Nathaly tinha uma foto do namorado – identificado somente por um apelido – segurando uma faca com sangue. A imagem estaria salva em seu celular, a prova do crime.

Os policiais cruzaram as imagens e a denúncia e chegaram a Vanderson. Ele e a namorada foram presos, acusados de participação no crime. Nathaly, no entanto, logo foi liberada. A polícia, a princípio, chegou à conclusão de que ela só soube do crime depois de já ocorrido.

“O que é posterior ao crime não cabe denúncia. Ela teria que anuir a vontade de matar”, afirmou a delegada.

Depois de preso, Vanderson confessou o crime. Também indicou o local onde jogou a roupa suja de sangue usada no dia do assassinato e a faca. Só a arma não foi encontrada. Apesar de alegar legítima defesa, ele não possuía nenhum ferimento.

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