O aumento de casos da Covid-19 em Manaus gerou impasse na Fundação Oswaldo Cruz e o pesquisador da instituição, Jesem Orellana que defende o lockdown. Orellana, seguidamente contestado pelos próprios colegas contrários à necessidade de bloqueio total na capital amazonense, declarou que chegou ao limite e que daqui em diante cabe à sociedade e ao poder público decidirem sobre futuro da população.

Em nota técnica, a Fiocruz descarta novo pico e recomenda apenas o distanciamento social. Clique aqui.

Orellana afirmou à Folha de S. Paulo, que foi desautorizado pela entidade a falar em nome da fundação. O pesquisador afirma que a segunda onda da Covid-19 já está em formação e que não é preciso esperar seu pico para alertar sobre os efeitos nefastos que ela poderá gerar.

O pesquisador afirma em nota divulga nesta quarta-feira, 30, que o contexto atual da pandemia em Manaus é o mesmo de março, ou seja, havia uma certa apreensão, mas ninguém nunca imaginou o que poderia acontecer em abril e maio uma catástrofe sanitária sem precedentes.

Ainda de acordo com a nota, o pesquisador sustenta que Manaus não ocorrerá nada parecido com a primeira onda, mas que naturalizar adoecimentos e mortes é algo grave, desumano e antiético.

Na terça-feira, 29, o governador Wilson Lima, declarou que não passa pela cabeça dele decretar lockdown no estado. O prefeito Arthur Neto é favorável.

Leia a íntegra da nota do pesquisador Jesem Orellana publicada na coluna Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo.​

Saibam que a comunicação da FIOCRUZ-RJ (ligada diretamente à Presidência) me orientou a não me identificar como sendo da FIOCRUZ em entrevistas sobre Lockdown e, foi além, ao afirmar que “a FIOCRUZ não recomenda Lockdown”, o que antes de tudo é, no mínimo, desprovido de amparo científico e apenas reforça a narrativa do Presidente Bolsonaro. Pedi provas documentais/científicas e essa pessoa recuou dizendo que, na verdade, dependia de “bom senso”.

Essa pessoa ainda me chamou de “sem noção” por ter aventado a possibilidade de Lockdown em Manaus. Apenas reforço, que em todas as entrevistas disse que quando falhamos com medidas menos extremas, caso de Manaus, só resta o Lockdown.

Em junho um documentário que seria veiculado pela EBC foi suspenso, depois de ampla divulgação. Detalhe, tinha uma fala minha (e talvez de outros cientistas) criticando a forma ineficaz que o governo federal vinha administrando a epidemia. Resultado? Suspenderam o programa de última hora. Até entendo, pois trata-se de emissora do governo. Agora, a FIOCRUZ fazendo isso comigo é dureza!

Para o bem ou para o mal, pelo menos por enquanto, irei me abster de comentários sobre a situação de Manaus nos mais diferentes meios. Creio que fiz o que estava ao meu alcance, pois tenho emitido alertas desde agosto e agora, quase 40 dias depois, a realidade é a que temos acompanhado: número de infecções aumentando, de casos novos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), de internações em leitos clínicos e de UTI.

Este é o meu limite, daqui em diante, cabe a sociedade e ao poder público decidirem nosso futuro. O que me preocupa é que o contexto atual é o mesmo de março, quando havia uma certa apreensão, mas ninguém nunca imaginou o que poderia acontecer em abril/maio: uma catástrofe sanitária sem precedentes. Obviamente, não teremos nada parecido com a primeira onda nos próximos meses. Mas, naturalizar adoecimentos e mortes é algo grave, desumano e antiético.

Como epidemiologista, meu dever é o de antecipar o pior, ajudando a poupar vidas e mais sofrimento. Mas, vejo que o modelo hegemônico é o de contar mortos!
Saibam que me retiro de cabeça erguida e com a sensação de dever cumprido. Nas duas últimas horas recebi três pedidos de entrevistas, entre eles um da BBC, mas optei pelo silêncio moral e pelo mais profundo repúdio a tudo que tenho acompanhado!

Jesem Orellana
Epidemiologista-FIOCRUZ/Amazônia

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