A investigação que levou a Polícia Federal a encontrar dinheiro escondido na cueca do senador Chico Rodrigues (DEM-RR) aponta que o ex-vice-líder do Governo no Senado influenciava diretamente na gestão da Saúde em Roraima. As informações são de Poder 360.

De acordo com a PF, o senador comandou esquema de superfaturamento de contratos entre empresas com as quais tinha ligação e a Secretaria de Saúde de Roraima. Ele também teria influenciado para a demissão do então chefe da pasta, Allan Garcês, em fevereiro deste ano.

“As mensagens e as exonerações sugerem forte influência do senador Chico Rodrigues na Secretaria de Saúde do estado de Roraima, bem como levantam a suspeita de que essa influência fosse exercida para fins ilícitos”, diz a PF.

Na decisão em que determinou o afastamento de Chico Rodrigues do cargo de senador por 90 dias, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), apresentou detalhes da investigação da PF e da CGU (Controladoria Geral da União) sobre o caso. Eis a íntegra da decisão.

A investigação começou a partir de depoimento prestado na sede da Polícia Federal, em Roraima, por 1 servidor público que ocupou os cargos de coordenador e diretor na Coordenação Geral de Urgência e Emergência da Secretaria de Saúde de Roraima nos primeiros meses de 2020. Ele é identificado apenas como Francisvaldo.

Segundo o depoimento, houve envolvimento de congressistas em fraudes na aquisição de kits de teste rápido para detecção de covid-19 e em irregularidades no processo de compra de centrais de ar-condicionado para uma maternidade de Rorainópolis (RR).

O suposto esquema criminoso seria operado mediante a destinação de valores de emendas parlamentares para empresas contratadas pelo poder público, indicadas pelos próprios congressistas, que atuariam por meio de intermediários.

Os valores desviados seriam destinados para ações de combate à covid-19 no Estado, como a aquisição dos kits para teste de covid-19.

A pedido da Polícia Federal, a CGU afirmou que o Estado de Roraima recebeu mais de R$ 16 milhões do governo federal para o enfrentamento da pandemia. A corporação, então, identificou 4 contratações suspeitas da empresa Quantum Empreendimentos em Saúde relacionadas ao combate à pandemia.

A investigação apontou possíveis vínculos entre o senador Chico Rodrigues e a Quantum Empreendimentos em Saúde, já que Roger Henrique Pimentel, cunhado de sua assessora, Samara de Araújo Xaud, é 1 dos sócios da empresa desde fevereiro de 2020.

De acordo com a PF, a organização criminosa envolveria “o senador Chico Rodrigues, a empresa Quantum Empreendimentos em Saúde, seu sócio, a assessora parlamentar do senador (e também cunhada do sócio) e seu esposo (apontado como operador do senador), além do então secretário de Saúde e 1 servidor público, todos atuando em divisões de tarefas”.

A PF investigou diálogos mantidos entre Francisvaldo e o senador em aplicativo de telefone celular. Nessas conversas, o senador tranquiliza o servidor sobre sua permanência no cargo ocupado na Secretaria de Saúde.

Em diálogo de 14 de fevereiro, Francisvaldo demonstrou preocupação com a exoneração de Francisco Monteiro, secretário adjunto que, segundo o denunciante, estava “dando total apoio às suas demandas”, pelo então Secretário da Saúde, Allan Garcês. Segundo a PF, o senador respondeu simplesmente “ok”. No dia seguinte, 15 de fevereiro, Allan Garcês foi exonerado e Francisco Monteiro nomeado novo secretário da Saúde.

Envolvimento de outros congressistas

Na decisão proferida nesta 5ª feira (15.out), Barroso também destaca trechos da investigação da Polícia Federal que levantam suspeitas sobre a destinação de emendas de outros congressistas ao esquema.

De acordo com os investigadores, o senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR) e o deputado Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR) também negociaram a destinação de verbas de combate ao novo coronavírus a Roraima em troca da contratação de empresas indicadas por eles pela Secretaria Estadual de Saúde.

A PF também suspeita do deputado estadual Jeferson Alves (PTB) por interferência nas contratações feitas pelo governo de Roraima. Segundo o depoimento de Francisvaldo, o congressista teria levado à Secretaria de Saúde 1 empresário chamado Erike, proprietário das empresas Femax e Norte Ambiental.

Na oportunidade, Erike, que já possuía contratos com a secretaria nas áreas de manutenção de equipamentos e coleta de lixo hospitalar, teria “exigido” a contratação de sua empresa, Femax, para o fornecimento de 3.000 testes, no valor total de R$ 4.950.000.

O deputado estadual ficou conhecido em fevereiro, quando usou 1 alicate e uma motosserra para derrubar bloqueio de base indígena em Roraima.

Artigo anteriorADS e Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá discutem ações para estimular o manejo sustentável do pirarucu
Próximo artigoFilme político Os 7 de Chicago estreia como aposta da Netflix no Oscar 2021