É deplorável a guerra de “inteligências” que se trava na televisão brasileira: enquanto a Rede Bandeirantes se vangloria por ter levado o Faustão para o seu time, a Rede Globo contra-ataca iniciando mais uma edição do Big Brother. E a saúde mental de nós outros, inocentes telespectadores, que se cuide diante dessa inflação de tolices e apelações baratas.

Há muito tempo tenho implicância com esse tal de BBB. Faz coisa de quinze anos publiquei matéria no jornal “Estado do Amazonas”, hoje extinto e onde deixei de escrever porque o dono da empresa, num surto de arrogância inquisitorial, censurou um artigo meu, vetando-lhe a publicação.

Lá estava escrito o seguinte: “Quando George Orwell, do alto da imponência de seu patológico anticomunismo, escreveu “1984”, e criou a figura sinistra do “Grande Irmão”, por certo não desconfiava de que aqui, em terras de Cabral, seu engenho iria servir de título para uma das maiores tolices já vistas abaixo da linha do equador.

Que interesse pode despertar em alguém o que acontece dentro de uma casa onde se reúnem pessoas que nunca se viram e cuja afinidade há de ser o desejo de ganhar um milhão de reais? Admita-se que a psiquiatria (com licença, meu amigo Rogelio Casado) encontre explicação para tal interesse. Duvido, porém, que logre demonstrar uma razão lógica para alguém pagar para ver o interior da tal casa e, o que é mais grave, continuar gastando dinheiro para “votar” sobre o destino dos infelizes ali reunidos”.

Não é possível, mais uma vez, deixar de evocar a saudosa figura da minha avó materna, repetindo o refrão que lhe saía da boca todas vezes em que via alguém se meter, sem que nem mais, numa situação vexatória: “Vamos ser bestas”.

Enquanto isso, coisas da maior seriedade acontecem no dia-a-dia sem que os grandes veículos de comunicação lhes deem o devido e necessário espaço. A situação do ensino no Brasil é uma delas. Com professores recebendo salários que, às vezes, beiram o ridículo, o nível da transmissão de conhecimentos nas escolas públicas está num processo de degradação insuportável.

No meu tempo (e digo apenas como comprovação de um fato e não para servir de parâmetro) o jovem completava seus estudos de língua portuguesa com catorze anos, se tivesse seguido normalmente o seriado. Era o fim do chamado curso ginasial e o adolescente estava apto a ler e entender um texto de relativa complexidade, interpretando-o e analisando-o. Na etapa subsequente, no chamado curso colegial, estudava-se apenas literatura, nacional e estrangeira.

Hoje, se tomarmos aleatoriamente um jovem qualquer de quinze anos, será fácil comprovar que ele quase com certeza nunca se dignou de ler um livro que seja e dificilmente estará apto para interpretar e compreender a realidade que o cerca.

Essa alienação não pode servir a nenhum propósito digno. Muito pelo contrário, só há de prestar para deixar a juventude como massa de manobra para a demagogia barata e para ideias que não encontrariam campo fértil nem na Idade Média.

É lamentável.

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