Em 2020, a obra Quarto de despejo: diário de uma favelada completou 60 anos desde o seu primeiro lançamento. Em comemoração a esse clássico da literatura brasileira, a editora Ática se debruçou para criar uma edição especial, com fotografias e manuscritos originais da autora Carolina Maria de Jesus e prefácio da escritora Cidinha da Silva. Além disso, haverá também um lançamento inédito de uma adaptação do texto para o teatro, escrito por Edy Lima, jornalista, escritora, dramaturga e autora de mais de cinquenta livros.

Ambos os livros contam com capa assinada pelo artista plástico No Martins, que em seus trabalhos costuma abordar questões como racismo, violência policial e encarceramento em massa, revelando também uma conexão com a obra atemporal de Carolina.

A importância da obra Quarto de despejo é extensa pela sua relevância social, pela exposição de desigualdades e pelo clamor por justiça e influência. “Carolina Maria de Jesus cria uma tradição literária na medida em que outras mulheres também oriundas de classes populares passam a escrever sob influência se não estética de conteúdo”, analisa a escritora ganhadora do Prêmio Jabuti, Conceição Evaristo. Além disso, o livro já foi requisito de leitura obrigatória em vestibulares, transformado em peça de teatro, traduzido para 13 idiomas e vendeu, aproximadamente, 100 mil exemplares.

A trama do livro, em formato de diário, retrata o cotidiano de uma mulher que vive na favela do Canindé, em São Paulo, em busca de alimentar seus filhos. O cenário também recria aspectos históricos da cidade, já que em 1950 surgiram as primeiras comunidades no local.

O conteúdo da obra escancara uma realidade de extrema pobreza, desigualdades sociais, de gênero e de raça; problemas que ainda persistem na sociedade brasileira contemporânea. O formato de escrita expõe o desvio da norma culta do português e, assim, preserva a identidade da personagem, retratando a realidade de muitos brasileiros.

Carolina de Jesus constrói sua narrativa de maneira a mostrar a origem dos preconceitos do país. A partir de sua experiência conta sobre a condição de miséria e segregação dessas populações e gera um debate sobre a inação do poder público em relação à péssima qualidade de vida desses indivíduos e a perpetuação das favelas até os dias de hoje.

A montagem original de Quarto de despejo para o teatro, em 1961, teve direção de Amir Haddad – que assina o texto de apresentação do livro de Edy Lima –, e no papel de Carolina, a atriz Ruth de Souza, comadre e grande amiga de Edy. Considerada fundamental para a abertura de caminhos a intérpretes negros nas artes cênicas, na televisão e no cinema, Ruth chegou a visitar a favela do Canindé para compor sua personagem, acompanhada de Carolina e Audálio Dantas, o jornalista responsável pela publicação do diário.

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