A variante ômicron é a mais recente investida da pandemia que há quase dois anos vem infernizando a vida da humanidade. Dizem que, sendo de mais fácil contágio, é, entretanto, menos agressiva e sintomática, de tal maneira que se parece com a “gripezinha”, idealizada, nos albores da crise, por uma carimbada figura dos altos arraiais da República. Nem por isso, alertam os especialistas, há que ser menosprezada, de tal sorte que os cuidados devem ser mantidos, entre eles a vacinação, a higiene das mãos e o uso da máscara.

Quanto à primeira, fatos há que merecem uma reflexão. Não posso compreender, por exemplo, como é que uma pessoa, supostamente no pleno uso e gozo de suas faculdades mentais, se recusa a ser vacinada. É a irracionalidade pura e simples, semelhante à postura religiosa de um determinado grupo de crentes para os quais a transfusão de sangue é proibida. Em nome de quê, por favor? A vacina, concebida e colocada no mercado em tempo recorde, é, ao que me consta, o meio mais eficaz de se prevenir contra o vírus. Recusá-la, portanto, traduz uma postura no mínimo equivocada e influenciada, talvez, pelas trombetas palacianas que Bolsonaro insiste em soprar sempre que trata do assunto.

O Presidente, aliás, na matéria de que se cuida, tem sido de uma infelicidade a toda prova, se quisermos dizer somente o mínimo. Agora mesmo vem de criar uma complicação com o presidente da ANVISA, ainda em termos de vacina, manifestando-se contrário à aplicação do remédio em crianças de cinco a onze anos. É impressionante, e daria uma excelente reportagem investigativa buscar saber qual a fonte primária dessa ojeriza bolsonarista a tudo que cheira a ciência e cultura.

Eu tenho três netas nessa faixa etária. Se depender apenas de mim, serão vacinadas na primeira oportunidade em que o governo disponibilizar as respectivas doses e tenho certeza de que nenhuma delas corre o risco de virar jacaré ou contrair a síndrome da imunodeficiência adquirida, a famosa e terrível AIDS. Por incrível que pareça essas possibilidades já foram aventadas, em momentos diversos, por Bolsonaro, como forma de divulgar sua convicção de que a vacina é ineficaz e desnecessária.

Que o presidente tem assessores é uma coisa certa e que alguns desses auxiliares devem ser altamente qualificados é uma probabilidade razoável. Em sendo assim, é também muito provável que Sua Excelência já tenha sido aconselhado a, pelo menos, ter um pouco mais de cuidado quando emitir opinião sobre matéria que não domina. Por que não segue esses sensatos conselhos? A explicação só pode residir numa caturrice lamentável que conduz, com todas as pompas, ao ridículo mais execrando, tornando o presidente uma figura deplorável.

De minha parte, estou contando os minutos e as horas que nos separam do ainda tão longínquo dia 2 de outubro. Por que essa obsessão com o tempo? – indagarão os menos avisados. Satisfaço-lhes a curiosidade: 2 de outubro será o domingo em que terá lugar o primeiro turno das eleições. Dá para imaginar a satisfação com que seguirei para a urna e nela depositarei um voto que, não importa a quem seja dado, será contra Bolsonaro. Com efeito, estou cansado do reinado de sandice que se implantou no país há três anos. Está mais do que na hora de acabar com essas manifestações trogloditas de ameaça à normalidade democrática e de culto à personalidade. O Brasil merece coisa melhor. E haverá de tê-la a partir do próximo ano.

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