O Reino Unido, que enfrenta desde dezembro uma nova variante do coronavírus, mais contagiosa e possivelmente mais letal, se tornou o primeiro país da Europa a ultrapassar as 100 mil mortes nesta terça-feira (26) e seu primeiro-ministro, Boris Johnson, disse assumir “total responsabilidade”.

Diante de uma terceira onda irrefreável desde a descoberta no sul da Inglaterra dessa mutação do vírus, que segundo cientistas britânicos é entre 30% e 70% mais contagiosa, o país já vinha sendo muito criticado desde o início da pandemia por suas políticas erráticas.

Houve demora no fornecimento do material de proteção aos profissionais de saúde, duvidou-se na obrigatoriedade do uso de máscaras à população – o que ainda não é obrigatório no ambiente externo e algumas pessoas evitam até dentro de casa -, resistiu-se em aplicar o primeiro (março-junho) e o segundo (novembro) lockdown e em controlar viagens internacionais.

Agora, apesar de todo o país estar confinado pela terceira vez, com escolas fechadas, há semanas não para de bater recordes de mortes e os hospitais continuam lotados pelo aumento de pacientes com sintomas graves.

Nas últimas 24 horas, foram registrados 1.631 novos óbitos confirmados pela covid-19, o que aumenta o saldo total desde o início da pandemia para 100.162 mortes no país, segundo dados do Ministério da Saúde.

“É difícil calcular a dor contida nessa estatística sombria, os anos de vida perdidos, as reuniões de família que não aconteceram e, para tantos parentes, a oportunidade perdida até de dizer adeus”, comentou Johnson em uma entrevista coletiva.

“Lamento profundamente cada uma das vidas perdidas e, claro, como primeiro-ministro, assumo total responsabilidade por tudo o que o governo fez”, acrescentou.

No país mais afetado pela pandemia na Europa, o Executivo enfrenta críticas incessantes desde que a primeira morte de covid-19 foi registrada em 5 de março de 2020 e logo depois foi constatado que o país não tinha capacidade de realizar testes ou rastrear eficazmente os contatos.

Para convencer o executivo a estabelecer o primeiro confinamento, um epidemiologista alertou que o não cumprimento dessa medida poderia resultar em 250 mil mortes. Depois de fazer isso, as autoridades de saúde consideraram que se as mortes fossem limitadas a 20.000, seria “um bom resultado”.

– Nova variante mais letal? –

Na sexta-feira, Johnson causou polêmica ao anunciar, ao contrário do que se pensava anteriormente, que a variante britânica do vírus pode estar associada a uma maior mortalidade, embora com base em dados iniciais que ainda serão especificados.

No caso dos homens por volta dos 60 anos, a mortalidade no país com a cepa antiga era de 10 pacientes a cada 1.000 pacientes, enquanto com a nova seria entre 13 e 14 a cada 1.000, explicou o principal conselheiro científico do executivo, Patrick Vallance.

No entanto, Vallance quis “ressaltar que há muita incerteza em torno desses números” e que se faz necessário “mais pesquisas para ter um entendimento específico”.

Essa variante já foi detectada em ao menos 60 países e territórios, apesar das crescentes restrições às viagens.

Diante dessa situação, o governo britânico concentrou sua estratégia na campanha de vacinação massiva, iniciada no dia 8 de dezembro.

Desde então, já vacinou 6,8 milhões de pessoas com os imunizantes desenvolvidos pela Pfizer/BioNTech e AstraZeneca/Oxford. No entanto, esse ritmo pode ser ameaçado por atrasos na entrega das próximas doses.

Depois que a americana Pfizer alertou na semana passada sobre atrasos na produção de vacinas, na sexta-feira a britânica AstraZeneca fez anúncio semelhante em relação ao continente europeu.

Isso causou preocupação e descontentamento em Bruxelas, que reagiu propondo controlar as exportações das vacinas da covid-19 fabricadas em seu próprio território. A Pfizer produz as vacinas que fornece ao Reino Unido em uma fábrica na Bélgica.

No entanto, o secretário de estado do Reino Unido, Nadhim Zahawi, afirmou nesta terça-feira que isso afetará os esforços do território.

“Estou confiante de que tanto a AstraZeneca quanto a Pfizer (…) nos fornecerão as quantidades que precisamos para cumprir nossa meta em meados de fevereiro”, declarou à Sky News.

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