Um dos principais líderes religiosos do país ligados à Umbanda, o sacerdote Heraldo Lopes Guimarães, 56, é alvo de denúncia do Ministério Público de São Paulo na qual é acusado de uma série de estupros e outros crimes sexuais praticados contra fiéis. Com informações de Folha de S. Paulo.

Até agora, seis vítimas procuraram a Promotoria para denunciar o religioso, conhecido como Pai Guimarães de Ogum. Entre elas está uma moça que tinha 12 anos quando, segundo seu depoimento, começou a ser abusada por Guimarães.

A Justiça analisa o recebimento da denúncia e o pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público.

Guimarães, por meio do advogado Marco Antonio de Castro, diz negar “veementemente todas as acusações” e diz que provará sua inocência no curso do processo. Ele aponta a ex-companheira, uma das vítimas, como articuladora das denúncias e cita como motivação uma disputa patrimonial.

O pai de santo é presidente da Abratu (Associação Brasileira dos Religiosos de Umbanda, Candomblé e Jurema) e dá entrevistas constantes. Em 2017, ele chegou a entregar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um brajá, série de colares de contas que representam o primeiro grau da umbanda.

De acordo com a denúncia, os crimes teriam sido praticados pelo menos entre 2010 e 2019, e na maior parte dos casos ocorrido no templo dirigido por ele no Ipiranga, zona sul da capital. A Promotoria afirma que ele usava a condição de líder religioso para exercer domínio psicológico e deixar as vítimas vulneráveis.

Para o Ministério Público, os crimes ocorrem de forma continuada e ininterrupta nesses anos, um dos argumentos usados no pedido de prisão. “A gente entende que ele vai continuar essa conduta criminosa, porque ele não parou de exercer as atividades religiosas”, diz promotora Celeste Leite dos Santos.

Celeste é gestora do Avarc (Acolhimento de Vítimas, Análise e Resolução de Conflitos), projeto do Ministério Público que busca proporcionar atendimento mais humanizado a vítimas de crimes. Esse é ao menos o terceiro caso do grupo envolvendo vítimas de supostos abusos praticados por religiosos.

Uma das mulheres que procuraram a Promotoria desta vez, identificada como “Vítima 1”, diz que começou a frequentar o templo em 2006, acompanhada pela mãe, quando tinha oito anos. O suspeito teria construído uma relação afetividade, “similar à da paternidade”, mas, com o passar dos anos, Guimarães teria passado exercer ingerência psicológica sobre ela.

Em 2011, quando a vítima completaria 13 anos, o pai de santo autorizou a adolescente a participar de rituais no terreiro, afirma. Em certa dada oportunidade, segundo a denúncia, o suspeito conduziu a vítima para um quarto chamado pela religião de “tronqueira de Exu” para trabalhos espirituais.

Lá, alegando estar incorporado por uma entidade de “esquerda”, Guimarães teria dito à vítima que iria ensiná-la sobre a vida e a “torná-la uma mulher”. Retirou o pênis da calça e convenceu-a a fazer sexo oral.

Dois anos depois, segundo a denúncia, Guimarães teria levado mais uma vez a adolescente para o mesmo quarto e, sob a alegação de que trabalharia para salvar a vida de religiosa da casa, mantido relações sexuais. Na época, a vítima era virgem, afirma a denúncia.

Depois disso, os abusos passaram a ser constantes, segundo o Ministério Público.

Outras vítimas relataram à equipe do Avarc situação semelhante. Eram levadas para a “tronqueira” onde o pai de santo, sob a alegação de estar incorporado, praticava atos sexuais com elas sob o argumento de afastá-las de um mal maior, inclusive da morte.

Uma das vítimas, identificada pelo número 5, disse que o suspeito, sob a alegação de estar incorporado, a induziu a engolir sêmen porque isso daria prazer à entidade. Outra vítima, número 2, disse que foi abusada quanto tinha 14 anos, em 2014.

A vítima 3 disse à Promotoria que o suspeito teria aproveitado a fragilidade dela quando descobriu que não poderia engravidar e a convenceu a fazer sexo oral e a permitir outros abusos, que ocorreram entre 2010 e 2011. Em 2013, ela teria sido expulsa da comunidade após falar sobre o ocorrido.

A sexta e última vítima citada na denúncia disse ter começado a frequentar o local com o marido, em 2013. Em determinada data, ouviu de Guimarães, supostamente incorporado, que havia um trabalho espiritual para matá-la e “caso não tivesse relações sexuais com o pai de santo, ela morreria”.

Como a vítima cedeu as ameaças, o suspeito teria dado outras ordens nos dias posteriores. Primeiro, que não fizesse sexo com o marido com 90 dias e, por fim, determinou que ela abandonasse o casamento e fosse morar com ele para proteção espiritual.

Depois disso, ela afirma que passou a viver sob a vigilância do pai de santo ou pessoas indicadas por ele.

De acordo com o Ministério Público, a primeira vítima vem recebendo acompanhamento psicológico para lidar com pensamentos suicidas.

Pai de santo nega abusos e acusa ex-companheira de criar denúncia

O advogado Marco Antonio de Castro, defensor de Guimarães, disse que seu cliente está surpreso e inconformado com as denúncias. O pai de santo afirma que elas teriam sido articuladas pela ex-companheira, com quem tem um filho.

“Essas pessoas são interligadas. A ex-companheira e as outras pessoas que se dizem supostas vítimas têm uma relação estreita”, afirmou o advogado. “Nós vamos requerer as provas, as testemunhas, os laudos, e isso será demonstrado no curso do processo. Ele nega [as acusações], isso jamais ocorreu.”

Ainda de acordo com o defensor, o pai de santo está hospitalizado para tratar de problemas cardíacos, e não exerce mais o cargo religioso no templo no Ipiranga, que foi fechado.

“Ele não consegue se conformar. Os fatos são graves e em momento algum ele praticou qualquer uma dessas condutas descritas pelas vítimas e narradas pela promotora de Justiça”, afirmou.

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