Veja – Apesar de ter alcançado a meta de cobertura vacinal do sarampo de 2019, com 95% das crianças de 1 ano de idade imunizadas, o Brasil ainda enfrenta um surto da doença. Os principais sintomas do sarampo incluem febre alta, manchas vermelhas na pele e coriza – em casos mais graves, pode levar à morte. Agora, dois novos estudos indicam que a doença pode ter consequências que afetam o paciente mesmo após já ter se curado. Os trabalhos foram publicados separadamente nas revistas Science e Science Immunology

De acordo com os pesquisadores, o sarampo causa sérios danos ao sistema imunológico, pois o vírus destrói de 11% a 73% dos anticorpos que protegem os pacientes contra diversas doenças. Isso significa que o organismo fica vulnerável a outras infecções – mesmo aquelas para as quais a pessoa já havia sido vacinada, como poliomielite, gripe e tuberculose, por exemplo. “A ameaça que o sarampo representa para as pessoas é muito maior do que imaginávamos”, comentou Stephen Elledge, da Escola de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos, ao The Guardian

Os cientistas indicaram que essa imunidade pode ser recuperada em algum momento – em até cinco anos -, mas para isso, os pacientes precisam se expor a vírus e bactérias. A forma mais segura de fazer isso é se imunizar novamente contra todas as infecções para as quais existem vacinas uma vez que os imunizantes possuem parte de vírus ou bactéria, mas de forma inócua – ou seja, não causam a doença, mas ajudam o sistema imunológico a produzir anticorpos que protegem o organismo contra uma futura infecção.

Segundo especialistas, o sarampo afeta mais de 7 milhões de pessoas e causa mais de 100.000 mortes por ano em todo o mundo. Apesar de haver vacina contra a doença, as pessoas estão parando de se imunizar, o que tem provocado um aumento de quase 300% no número de casos de sarampo desde 2018. 

Como o sarampo afeta a imunidade?

Quando o sistema imunológico precisa enfrentar infecções desconhecidas, ele necessita do bombeamento de células imunológicas diversificadas, pois assim alguma delas pode reconhecer o patógeno e se unir para tentar combatê-lo. Depois de produzir células capazes de destruir uma infecção, o sistema imunológico também cria células com memória de longa duração que circulam pelo corpo permanentemente, assim caso a pessoa venha a ser infectada pelo mesmo patógeno, seu organismo pode eliminá-la mais rapidamente.

Mas os estudos revelaram que, no caso de uma infecção pelo vírus do sarampo, uma proporção substancial de células da memória imune desaparece. Isso porque, ao entrar no sistema respiratório, o vírus penetra as células imunológicas, se replica e se espalha para outras células. Ao fazer isso, o vírus destrói duas linhas de defesa do sistema imunológico. “O sarampo causa diretamente a perda de proteção a outras doenças infecciosas”, explicou Velislava Petrova, do Instituto Wellcome Sanger, na Inglaterra, ao The Guardian.

Os estudos

Para chegar a essa conclusão, as equipes de pesquisas realizaram dois estudos diferentes. Em ambos os trabalhos foram examinadas amostras de sangue de crianças antes e depois de serem infectadas com o sarampo. Os participantes foram acompanhados durante cerca de seis semanas após contraírem a doença. A análise mostrou que o vírus destrói 11% a 73% dos anticorpos do sistema imunológico, deixando o paciente mais vulnerável a doenças contra as quais já estava protegido.

Os pesquisadores ainda precisam verificar se o sistema imunológico consegue se recuperar dos danos causados pelo vírus do sarampo. “Pode-se especular que é muito provável que se recupere, com base na recuperação observada em pessoas que usam drogas imunossupressoras. Talvez depois de cinco anos”, disse Velislava. 

Um dos estudos ainda apontou que a vacina M-M-R, que combate sarampo, caxumba e rubéola, não tem esse efeito de supressão imunológica. Isso significa que a vacina é segura, promovendo proteção contra as doenças sem prejudicar o organismo. Por causa disso, os cientistas ressaltaram a importância de manter a caderna de vacinação em dia contra o sarampo.

Sarampo

O sarampo é uma doença infectocontagiosa grave, que pode ser transmitida pela fala, tosse e espirro. Os sintomas da doença incluem indisposição inicial (com duração de três a cinco dias), febre alta (acima de 38,5 graus), mal-estar, coriza, conjuntivite, tosse, falta de apetite e exantema (erupções cutâneas vermelhas). Nesse período, manchas brancas podem ser observadas na face interna das bochechas. Já as manchas vermelhas na pele aparecem inicialmente atrás da orelha e se espalham para a rosto, pescoço, membros superiores, tronco e membros inferiores. 

O sarampo apresenta complicações que, em casos graves, podem até mesmo levar à morte, particularmente em crianças desnutridas e menores de 1 ano de idade. Entre as complicações estão: otite média aguda, pneumonia bacteriana, laringite e laringotraqueite. Em casos mais raros, há manifestações neurológicas, doenças cardíacas, miocardite, pericardite e panencefalite esclerosante subaguda (complicação rara que acomete o sistema nervoso central após sete anos da doença). 

Segundo o Ministério da Saúde, as complicações do sarampo podem deixar sequelas, especialmente se contraído na infância, incluindo cegueira, surdez, diminuição da capacidade mental e retardo do crescimento.

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