A flexibilização das medidas de isolamento social levou o volume de serviços prestados no País a uma expansão de 2,9% na passagem de julho para agosto. Em três meses de avanços consecutivos, os serviços acumularam um crescimento de 11,2%, ainda insuficiente para cobrir o tombo de 19,8% registrado de fevereiro a maio. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgados nesta quarta-feira, 14, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nos 12 meses encerrados em agosto, os serviços recuam 5,3%, o resultado negativo mais intenso da série histórica desse indicador, iniciada em dezembro de 2012. No entanto, os dados de agosto trouxeram melhora, sobretudo, nos segmentos de serviços prestados às famílias e transportes.

“Se temos uma melhora na produção industrial e no varejo, isso significa mais movimentação de pessoas e mercadorias. A expectativa é que os serviços prestados às famílias melhorem à medida que há uma maior circulação de pessoas, então a tendência é que a PMS continue em um ritmo positivo, e desacelere conforme se aproxima o patamar do período pré-crise”, disse Carlos Pedroso, economista-chefe do Banco MUFG Brasil.

Os serviços prestados às famílias tiveram alta recorde de 33,3% em agosto ante julho, mas ainda operam 41,9% abaixo do patamar de fevereiro, no pré-pandemia. Para o economista Lucas Godoi, da consultoria GO Associados, o avanço recente foi puxado por uma melhora na confiança dos consumidores.

“O ponto é que a recuperação dos serviços não acontece só pela flexibilização das medidas de isolamento, mas aqui estamos vendo que os consumidores começaram a responder, a ter essa confiança de consumir em restaurantes, no turismo”, avaliou Godoi, que vê o início de uma retomada do padrão de consumo anterior à pandemia.

Segundo Rodrigo Lobo, gerente da Pesquisa Mensal de Serviços do IBGE, a flexibilização do isolamento social está por trás da melhora no cenário, mas a recuperação ainda é lenta.

“O ganho recente do setor de serviços prestados às famílias vem com a flexibilização, mas setor ainda se movimenta de forma tímida. A recuperação é vagarosa. Os hotéis lideram com maiores ganhos de receita no mês de agosto”, contou Lobo.

Os transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio avançaram 3,9% em agosto ante julho, acumulando um ganho de 18,8% em quatro meses, após uma perda de 25,2% em março e abril. O maior deslocamento de pessoas pelas cidades beneficiou o transporte de passageiros aéreo e rodoviário. O crescimento da parte relacionada ao armazenamento de mercadorias tem correlação com o varejo, que alcançou no mês de agosto o maior volume vendido dentro da Pesquisa Mensal de Comércio, lembrou Lobo.

“Com o aumento do consumo online das famílias, essa parte de armazenamento mostrou uma recuperação maior”, disse o pesquisador do IBGE. “E o transporte de cargas está voltando a crescer. O modal transporte rodoviário de cargas acompanha esse maior dinamismo, seja no comércio seja na indústria.”

O setor de serviços ainda precisa crescer mais 10,8% para retornar ao patamar pré-pandemia. A recuperação será lenta e gradual, e pode não ocorrer ainda este ano, avaliou Rodrigo Lobo.

“Nos três últimos meses, os serviços cresceram 11,2%, e à medida que tem um acúmulo de taxas positivas, torna-se mais difícil crescer sobre uma base de comparação maior. As próximas taxas talvez percam um pouco de fôlego”, previu Lobo. Em agosto, os serviços ainda operavam 9,8% abaixo do patamar de fevereiro de 2020.

“A pandemia ainda está presente na memória das pessoas. Ainda vai levar um tempo para que haja as condições adequadas para que o setor de serviços volte a operar no patamar de fevereiro. Ainda tem algum tempo até lá, talvez em 2020 a gente ainda não veja isso”, alertou Lobo.

Os serviços prestados às famílias ainda precisam crescer 72,2% para chegar ao patamar de fevereiro de 2020. As demais atividades também estão aquém do nível pré-pandemia: serviços de informação e comunicação operam 2,5% abaixo; serviços profissionais e administrativos estão 13,7% aquém; transportes operam 11,1% abaixo; e o segmento de outros serviços está 1,1% aquém.

Entre os subsetores, alojamento e alimentação operam 43,9% abaixo do pré-pandemia e precisam crescer 78,3% para recuperar as perdas do período. O transporte aéreo está 52,8% aquém do pré-pandemia e deve crescer 112,1% para resgatar o que foi perdido.

“Ainda que tenhamos observado uma flexibilização da quarentena, e alguns estabelecimentos tenham voltado a funcionar, ainda há restaurantes e hotéis funcionando de forma limitada. Há ainda restrição operacional de hotéis e restaurantes, eles operam com capacidade limitada. Há limite de oferta de prestação de serviços e há ainda assim um receio significativo por parte das famílias de voltar a consumir serviços turísticos”, disse Lobo. (Estadão)

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