A poeira escura “com cheiro de remédio” entra em todos os cantos da rotina de quem vive em Cotegipe, distrito da cidade baiana de Simões Filho, na região metropolitana de Salvador (BA).

Em casa, o pão não pode ficar na mesa, nem as roupas no varal, ou ganham uma camada do pó pegajoso. No corpo, tosse, falta de ar, náusea, e crianças internadas com crise alérgica e pneumonia, além de registros de problemas neurológicos e déficit intelectual.

Tudo por causa da fuligem constante, resultado do processamento de manganês da siderúrgica Vale Manganês, que fica a cerca de dois quilômetros da casa dos moradores.

“Eu me sinto sendo envenenada um pouquinho por dia. Como se eu tomasse uma xícara de café e outra de manganês”, conta a professora Adja Cristiane.

Os eucaliptos plantados em volta da metalúrgica conseguem esconder apenas parte das montanhas do pó preto no pátio e das fornalhas, cuja fumaça escura indica a transformação do manganês em ligas (combinações como outros elementos como o ferro), que até 14 de setembro eram vendidas para outras siderúrgicas no Brasil.

Nesta data, a Vale afirmou que a empresa de Simões Filho seria fechada até o final do ano, não por conta dos danos ambientais e de saúde apresentados pelos moradores de Cotegipe, mas por falta de “competitividade”.

“Com o fechamento, o lançamento dessas partículas de manganês na atmosfera vai parar. Mas todo esse legado de contaminação, esse passivo ambiental, vai permanecer”, afirma José Antonio Menezes Filho, professor de Toxicologia da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e coordenador de pesquisas que mostraram os efeitos da contaminação por manganês na população local. Com informações de Folha de S. Paulo.

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